O último mistério


Ontem completaram-se 120 anos do nascimento de Agatha Christie, efeméride que o Google britânico celebrou no logo (acima) e sites literários recordaram. Mas só hoje vi uma notícia, na verdade veiculada pela NPR em junho, que me chamou a atenção.

Trata-se de uma pesquisa feita por um professor da Universidade de Toronto, Ian Lancashire, e que levou em conta a obra de Christie, escritora das mais vendidas no mundo (mais de 2 bilhões de livros em 44 idiomas, é o que se diz).

Lanchashire deve ser um homem de paciência: basicamente, o que ele faz, com a ajuda de um programa de computador, é colocar em ordem alfabética todas as palavras e analisar os contextos em que são usadas. Uma das coisas que ele descobriu nesse tipo de pesquisa foi que John Milton nunca usou a palavra “because” em seus escritos, mas explicar o motivo exigiria o trabalho de um médium.

Os resultados foram mais expressivos quando ele se voltou a Agatha Christie, cuja literatura, há de se convir, é um tanto mais simples que a de um Milton. Ele pegou 16 romances dela, escritos ao longo de mais de 50 anos, e analisou o vocabulário usado, a frequência com que palavras aparecem e o número delas em cada texto.

A surpresa veio quando chegou ao 73º romance, escrito aos 81 anos. O número de palavras diferentes era 20% menor do que nos livros anteriores, o que representaria a perda de um quinto do vocabulário dela. A conclusão, para a qual contou com ajuda de especialistas, foi a de que ela sofria de Alzheimer – doença nunca diagnosticada, embora ela reclamasse da falta de concentração nos últimos anos de vida.

Por curiosidade, o livro se chama Os Elefantes Não Esquecem e trata de uma romancista que luta contra a perda de memória enquanto tenta ajudar Poirot.

11 Respostas

  1. A dama era verdadeiramente genial !

  2. Uma correção: 120 anos do nascimento da grande escritora.

  3. Pensei que o último romance dela tivesse sido “Passageiro para Frankfurt”. Esse pode ser considerado o único livro mediocre ou mesmo ruim dela. Dame Agatha ainda será, por muito tempo, o clima que a Inglaterra vai querer ter associado a sí mesma. “Morte na Mesopotâmia”, “Morte nas nuvens”, “Crimes ABC”, “Assassinato no Expresso do Oriente”, “Os dez negrinhos”, horas maravilhosas passei com ela… Onde se acha a sua obra completa?

    • Oi, Francisco. O Passageiro para Frankfurt foi publicado em 1970, antes de Os Elefantes Não Esquecem, de 1972, mas Os Elefantes também não foi o último dela a chegar às livrarias. Aconteceu de romances que ela escreveu muito tempo antes serem guardados e lançados depois, então não sei se o critério usado pelo pesquisador foi o do último livro escrito por ela ou se ele só pegou um lá perto do final da lista.

      Sobre a obra, a Globo Livros e a L&PM lançam livros dela por aqui (aliás, a L&PM também está lançando algumas interessantes versões em quadrinhos). Se está completa em catálogo eu não sei dizer. Bjs, Raquel

  4. Com um programa de computador tipo o WordSmith Tools, faz-se o trabalho do professor fez em SEGUNDOS. É basicamente esse o estudo da Linguistica de Corpus — varredura de sintagmas (gramaticais e lexicais) para o estudo de suas ocorrências. No Brasil essa área de estudos (dentro da Terminologia e da Tradução) tá bem forte e já faz parte do currículo das faculdades de Letras.

  5. oh, sim! agora que eu vi 🙂
    li a matéria na época do lançamento (pelo googlereader) e tive a impressão de que a utilização de um programa de computador não era mencioada.
    lembro que fiz um comentário (no próprio googlereader) mas achei que seria interessante fazê-lo aqui também 🙂

    Abraços!

  6. Oi, Raquel!
    Não conhecia seu blog, virei sempre por aqui. Tá uma delícia de ler.

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