A coluna da semana


[Publicado no Sabático de 12/2]

BABEL

Raquel Cozer – raquel.cozer@grupoestado.com.br

POESIA
Pouco traduzido no País, Heine terá sua maior antologia

Aluno de Hegel e Bopp na academia berlinense, amigo de Balzac e Chopin na capital francesa e influência para Marx e Nietzsche, entre outros, o poeta judeu-alemão Heinrich Heine (1797-1856) terá este ano sua maior antologia em português. Heine, Hein? – Poeta dos Contrários sai em maio, pela Perspectiva, com 544 páginas e 120 poemas e textos organizados e traduzidos pelo poeta André Vallias. Considerado por Borges “o primeiro poeta alemão”, Heine não teve no Brasil registros à altura de sua importância no século 20. Houve uma única coletânea de versos, Livro das Canções, organizada por Jamil Almansur Haddad nos anos 40, com traduções em sua maioria do século 19. Outras iniciativas, como as dez versões incluídas por Décio Pignatari em 31 Poetas – 214 Poemas, de 1996, foram esparsas.

INFANTIL
Tribo para crianças
A aposta certeira no público adolescente, com a adoção de obras de Emilio Salgari por escolas, levou a Iluminuras a mirar leitores ainda mais jovens: a partir de abril, o selo Livros da Tribo lançará também infantis, com foco em clássicos e na alta produção do gênero.

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A estreia será com João Felpudo, do psiquiatra Heinrich Hoffmann (1885-1957), obra tão celebrada que dá até nome a museu em Berlim. Traduzido no passado por Guilherme de Almeida, o volume com dez histórias ilustradas sobre o mau comportamento ganha agora versão de Claudia Cavalcanti. Da produção alemã estão previstos ainda Atrás da Torre Está o Mar e O Verão de Lúcio, de Jutta Richter, seguidos de obras argentinas e francesas. A editora tem interesse também em criações brasileiras, ainda em estudo.

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EXPORTAÇÃO
Submundo made in Brazil
Vai atravessar o oceano a boa maré de Pornopopéia, de Reinaldo Moraes, que já teve mais de 7 mil cópias vendidas desde maio de 2009. O livro acaba de ter os direitos adquiridos pela prestigiosa casa portuguesa Quetzal, que ainda publicará da Objetiva o premiado Outra Vida, de Rodrigo Lacerda.

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Por falar em Reinaldo, o selo Má Companhia, que estreia em março com dois títulos do paulistano (Tanto Faz e Abacaxi), fechou mais um título para este ano. Trata-se de Não Há Nada Lá, romance de estreia de Joca Reiners Terron, que integrará a série de autores malditos da Companhia das Letras no ano em que completa uma década de lançamento.

CARICATURAS
Se o bem e o mal existem
Javier Bardem (imagem), em Onde os Fracos Não Têm Vez; e Harrison Ford, em Indiana Jones, são alguns dos retratados no Livro do Oscar – Entre o Bem e o Mal, seleção de grandes vilões e mocinhos do cinema no traço de Ernesto Perlingeiro. Sai pela BarbaNegra/Leya, em abril, com textos do crítico de cinema Rogério Durst.

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FLIP
Carrère por aqui
O celebrado romancista francês Emmanuel Carrère, comparado em seu país a Franz Kafka pelo estranhamento que sua obra causa, estará na Flip, em julho. O autor de Outras Vidas Que Não a Minha (Alfaguara, 2010) é conhecido também por roteirizar e dirigir filmes relacionados a seus livros, caso de O Bigode (romance de 1986, filme de 2005) e Um Romance Russo (livro de 2007, documentário de 2003).

INTERNET
Negócio arriscado
Alexandre Pires Vieira descobriu nesta semana que vida de editor não é simples. Responsável pela Legatus, citada na última Babel por vender na Amazon e-books em português com dados incorretos, ele informou à coluna que não sabia da necessidade de fichas catalográficas e que vai tirar os títulos do ar até corrigir tudo. Nesta semana, a tradutora Denise Bottmann constatou diversos outros problemas, como versões cujos direitos não estão em domínio público.

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Sócio de empresa de seguros, Vieira disse que formatava livros para Kindle para consumo próprio até decidir testar a venda, há cerca de um ano, incluindo na loja para autores independentes da Amazon obras gratuitas localizadas em sites de download – aos quais credita os erros. “Confiei neles.” Hoje tem cerca de 100 títulos à venda. Os negócios, diz, têm crescido 20% ao mês. O best-seller é a Bíblia em inglês, com 600 cópias só em janeiro, enquanto a Bíblia em português (“A da Legatus é a única em português na Amazon”, orgulha-se) teve 60 exemplares vendidos no mesmo período.

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Update em 12/2: De um comprador de livros da Legatus para Denise: “Eu baixei o Maquiavel. Tinha 36 paginas, era um resumo mutilado, digamos assim. O livro honesto tem 200 pgs.  Eu paguei 6,99 dolares. Não eh um conto do vigario?

Além de tudo, está faltando um contato para reclamações, não? Fiquei sabendo de toda essa história da Legatus por um conhecido que comprou a tradução do “Paulo Besera” e recebeu a do José Geraldo Vieira. Ele escreveu há umas três semanas para a Amazon pedindo o dinheiro de volta e não teve resposta até agora. Diz Vieira que a Amazon avisa quando recebe reclamações (houve algumas, segundo ele, sobre a Bíblia em inglês, na qual faltavam versículos), mas eu mesma já tentei entrar em contato com o site várias vezes sem nenhuma resposta. A Legatus deveria ter algum contato na internet para reclamações. E, indo ainda mais longe: a Amazon lava as mãos em relação aos produtos que oferece?

Update 2, em 17/2: Essa discussão continua nos comentários abaixo.

7 Respostas

  1. […] This post was mentioned on Twitter by Joca Reiners Terron and Wellington de Melo, Raquel Cozer. Raquel Cozer said: Maior antologia de Heine no País, Emmanuel Carrère na Flip, o criador da Legatus e mais, na Babel http://migre.me/3RFPd #abibliotecaderaquel […]

  2. […] Raquel CozerEstadãoAluno de Hegel e Bopp na academia berlinense, amigo de Balzac e Chopin na capital francesa e influência para Marx e Nietzsche, entre outros, o poeta … […]

  3. […] caderno sabático, do jornal o estado de são paulo, a cargo da jornalista raquel cozer, traz uma atualização em sua nota sobre a editora legatus. reproduzo: Update: De um comprador de livros da Legatus para Denise: “Eu […]

  4. Prezada Senhora Raquel
    Parabéns pelo seu blog e pelo excelente trabalho.
    Temos uma futura grande editora. Estamos surpresos com a balbúrdia da Legatus na Amazon, (acompanhamos o nãogostodeplágio e as inúmeras picaretices do mundo editorial). Entendemos que a responsabilidade por quaisquer eventuais, digamos, malfeitos, é eminentemente da Legatus.
    A Amazon é, nesse tipo de evento, intermediária – diferentemente da análise, por exemplo, do comércio do Kindle, em que sua responsabilidade seria indubitavelmente direta. Não pode ser obrigada, smj, a assegurar os conteúdos em responsabilidade solidária com as editoras. Deve haver um “disclaimer” em algum lugar.
    Apesar disso, como lucra na venda de cada exemplar baixado – “subido” para os computadores pessoais dos pagantes – terá, sim, responsabilidade subsidiária caso a Legatus não honre o ressarcimento (ou até indenização) do consumidor que se sentir prejudicado.
    A Cultura, mesmo se tratarmos de formato papel, está na mesma posição da Amazon, caso chegue a vender livros com cadernos faltosos, trocados, ou com conteúdo forjado etc.
    Deixo-lhe meu abraço e reitero as congratulações iniciais, desejando muito sucesso, prosperidade e ótimas leituras.
    MAVB

    • Oi, Maria Adélia, muito obrigada pelo elogio e pelo esclarecimento. Mas continuo com uma dúvida, pode me ajudar? Você diz que a responsabilidade é eminentemente da editora, mas que, caso a editora não honre o ressarcimento (o que ainda não aconteceu nos casos de que tomei conhecimento), a loja terá responsabilidade subsidiária. O que significa essa responsabilidade subsidiária? O que a loja tem de fazer caso a editora não honre o ressarcimento? Bjs, Raquel

  5. Prezadas Denise e Raquel

    Meu despretensioso comentário deveria ter explicitado: “no mínimo, subsidiária”. Tento esclarecer.

    Digamos que João demande contra A e B, estes subsidiariamente responsáveis. Caso A não pague, B terá que fazê-lo. Depois, se quiser, B vai tentar ter reconhecido seu “direito de regresso” (de ressarcimento, por A) pelo valor pago a João.

    Ainda que se discuta eventual não-aplicação do código de defesa do consumidor ao caso concreto, a Amazon é, no mínimo, subsidiariamente responsável pelo ocorrido. Não seria concebível que alegasse nenhuma responsabilidade e pretendesse “lavar as mãos”, como aventado. Se, questionada, a editora não resolver a situação, parece-nos tranqüilo que o comprador requeira da Amazon a reparação. Há possíveis desdobramentos complicadores, mas a Amazon pode também não discutir e simplesmente creditar o valor pago ou estornar no cartão. Como dito algures, a Amazon poderia, então, exigir seu direito de regresso, dadas as provas, contra quem lhe causou prejuízo.

    Pelo código do consumidor, por outro lado, a responsabilidade seria solidária (art.18). Em miúdos, o consumidor opta qual réu (réus) quer quando há a possibilidade de demandar contra mais de um; são todos, na cadeia de fornecimento de um produto – os possíveis requeridos – igual e integralmente responsáveis. Aquele que se sentir prejudicado demanda contra quem escolher. Pode ir só contra A, só B (só C etc) ou todos, a escolha é da parte que vai pleitear em juízo o reconhecimento de seu alegado direito.

    Em resposta à pergunta de Raquel, enfim, a dita loja, smj, tem de ressarcir, se a editora não o fizer antes. Caso a Amazon tampouco reconheça voluntariamente sua responsabilidade (seja subsidiária ou solidária) no fato, o comprador pode entrar em juízo e requerer indenização.

    Tomara o bom senso atue e esses imbróglios sejam resolvidos extrajudicialmente o quanto antes.

    Ampliada a discussão para eventual ilicitude do conteúdo da obra ou sua autoria – e não “só” “impropriedade para consumo” (!) – entramos em outra(s) seara(s), não cabível (cabíveis) neste já exagerado comentário.

    Respeitosamente,
    Maria Adélia

  6. Prezadas,
    sou advogado e como sabe a Raquel uma das “vítimas” da picaretagem da Legatus. Infelizmente não pretendo ir adiante em nehuma demanda judicial para recuperar Us$ 4,99. Tenho muito mais o que fazer. Vou deixar no meu kindle como lembrança a fraquíssima tradução do Zé Geraldo para o agora quase biográfico para mim: O Idiota!
    Beijos

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