Pesquisa: produção do mercado editorial em 2010


Está rolando no Rio, agora à tarde, a coletiva de imprensa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e da Câmara Brasileira do Livro (CBL) sobre a pesquisa do comportamento do mercado editorial em 2010, com dados de produção e vendas.

Pedi para me enviarem os dados por email, já que não tinha como ir à coletiva. Conforme for analisando e esclarecendo dúvidas, posto aqui. A primeira coisa que estranhei foi que os totais de exemplares comercializados e títulos publicados referentes a 2009, por exemplo, não batem com os da pesquisa divulgada no ano passado, mas a CBL informou que as alterações em todos os números decorreram dos resultados do Censo do Livro 2009, também divulgados hoje. Hm.

Ainda vou falar com a pesquisadora responsável pelo censo para entender esses números direito.

Enquanto isso, o que já foi divulgado: há hoje no Brasil cerca de 750 editoras ativas. Destas, 498 enquadram-se no critério Unesco de editora: edição de pelo menos 5 títulos/ano e produção de pelo menos 5.000 exemplares/ano. A maioria das editoras do país (231) é formada por empresas com faturamento de até R$ 1 milhão.

Segundo a pesquisa anual realizada pela Fipe, o setor teve crescimento real de 2,63% (já descontada a inflação pelo IPCA) em 2010.  O que me chamou a atenção foi que, desconsideradas as compras feitas pelo governo (e também a inflação), houve decréscimo de 2,25% no setor.

Mas o número de exemplares vendidos cresceu 8,3%, se considerado só o mercado, e 13,12%, somando a essa conta as compras de governo e entidades sociais.

O preço médio do livro “manteve tendência de queda que apresenta desde 2004”, segundo o relatório. A queda em 2010 foi de 4,42%.

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Update às 19h:  já faz alguns anos que o meio de venda de livros que mais cresce no país é o porta a porta. De 2009 para 2010, essa venda passou a corresponder de 16,65% para 21,66% do total do mercado em números de exemplares. As livrarias continuam na frente em faturamento, com 62,70% do mercado.

Outros highlights da pesquisa: os segmentos que mais crescem, em número de exemplares produzidos, são, na ordem, religiosos (39,23%), obras gerais (21,99%), CTP (técnicos, jurídicos etc; 21,84%) e didáticos (18,14%). As vendas para o PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) cresceram 27%, mas as do PNBE (Plano Nacional das Bibliotecas Escolares) caíram 10,22%. Na média, considerando outros tipos de compra, as compras pelo governo cresceram 13,59%.

O tal Censo do Livro foi realizado entre novembro de 2010 e abril de 2011 e afere o ano de 2009. A ideia é que esse censo seja feito de tempos em tempos – não me responderam ainda quando foi a última, mas o fato é que a diferença nos resultados de 2009 pré e pós-censo faz pensar na maleabilidade desses números.

Por exemplo, no ano passado, foi divulgado que 52,5 mil títulos foram editados ou reeditados em 2009. Com a nova variável, aplicada após o censo, o número total de 2009 cai para 43,8 mil, e o de 2010 fica em 54,7 mil. O crescimento no número de títulos considerando esses dois últimos números seria de 24,97%, mas o fato é que, se antes do censo usava-se a variável errada nas contas, em algum momento lá atrás divulgou-se uma porcentagem de crescimento maior que a real.

Não é segredo para ninguém do mercado que a pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial elaborada pela Fipe, embora seja a mais exata do setor, está longe de ser exata.

Uma curiosidade: a pesquisa referente a 2010 foi a primeira a incluir dados sobre e-books, mas eles não foram divulgados no material impresso. Imagino que ficam como base de comparação para a pesquisa referente a 2011, a sair ano que vem. Até porque esses números devem ser ainda irrisórios – mas por isso mesmo seria interessante conhecê-los…

15 Respostas

  1. “Mas o número de exemplares vendidos cresceu 8,3%, se considerado só o mercado, e 13,12%, somando a essa conta as compras de governo e entidades sociais.”

    Eu devo ser responsável por metade deste aumento… e a bagunça no meu apartamento é a prova disso. =D

  2. incrível que mais de um terço das editoras publique menos de 5.000 exemplares e menos de 5 livros por ano!

  3. desculpe voltar, mas: entendi direito? mais um de um terço das editoras brasileiras não se enquadra nos requisitos mínimos de uma editora segundo a unesco?

    • Oi, Denise! Então, eles explicam que é caso de gente que abre editora e lança um livro só – tipo do pai, do tio, próprio. Diz que é muito comum. Ou editora de revista que também publica livro. Ou editora de apostila que também publica livro. Anfã. Esses números são todos um mistério pra mim. Pra todo mundo, acho. Vou avaliar com mais calma.

  4. esses ultimos anos tenho comprado harry potters, crepusculos, fallens etc.
    eu gosto de ler.

    • Oi, Carolina. Harry Potter é considerado um dos maiores responsáveis por criar novos leitores jovens no mundo inteiro nas décadas passadas, então você faz parte de um cenário bem significativo =). Beijo, Raquel.

  5. bom, raquel, mas aí fica difícil dizer que são “editoras ativas”… e duvido que editora de revista lance tiragem baixa, justamente porque pegam distribuição em bancas. também acho misterioso, sim. e que cbl e que snel são esses que fazem levantamento incluindo editora de um livro só? e sabe a dificuldade e o custo de abrir uma empresa especialmente pra publicar só uma obrinha? existem tantas editoras especializadas em publicar por encomenda! acho tudo isso meio confuso.

  6. e vc sabe como a cbl e o snel fazem seus levantamentos?pelo que vi, pelo menos na cbl, mandam carta aos associados pedindo para enviarem dados do ano anterior. assim. quem quer, responde; quem não quer, não responde. e até onde sei, a cbl não vai checar se as informações dadas são corretas, aproximadas, chutadas ou inventadas. sei lá, acho o processo todo meio pouco não muito transparente (se for aquele que resulta nos relatórios da fipe).

    • Pois é, Denise, eu sei, já cubro isso faz alguns anos. Inclusive eu falo disso no post, do quanto esses números são pouco confiáveis… Mas são a única mediçáo feita. Em todos os países que divulgam essa pesquisa é assim.

  7. Oi Raquel !!
    Que confusão essa pesquisa hein?
    Vou esperar você analisar esse números pra comentar algo.
    Beijos

  8. Além da confiabilidade dos dados ser frágil, entendo como um equívoco juntar no mesmo saco editoras e prestadoras de serviço em publicação / impressão – que infelizmente talvez sejam o maior volume, ao menos no campo da ficção.
    Lamentável também que não tenham divulgado os dados sobre e-books, mesmo sem base para comparação.

  9. […] que se pode ver do outro extremo da redação. Ficavam faltando números, então esperei sair a pesquisa anual de comportamento do mercado editorial, realizada pela Fipe, e trabalhei em cima dos números – como escrevi por aqui, a pesquisa […]

  10. […] faltando números, então esperei sair a pesquisa anual de comportamento do mercado editorial, realizada pela Fipe, e trabalhei em cima dos números – como escrevi por aqui, a pesquisa […]

  11. Há possibilidade de enviar essa pesquisa para mim?

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