Os destaques da edição de hoje são os textos sobre Bolaño e 2666; a entrevista da Claudia Trevisan, na China, com o autor Yan Lianke, que teve livros banidos por lá; e o conto inédito do Sérgio Sant’Anna. Dá para achar tudo via @cultura_estadao. Posto aqui só o abre da coluna Babel, porque no site não entrou o mais interessante.
Foi o seguinte: na quarta, recebi um email do Boris Schnaiderman sobre o convite que eu tinha feito a ele para que resenhasse Eugênio Oneguin, do Pushkin. Ele pediu desculpas; não seria ético, já que está envolvido em projeto parecido. É sempre desanimador receber um não para convite de resenha, mas desconfiei de que tinha boa nota ali. Liguei pra ele e era melhor que a encomenda: o Boris faz a consultoria de outra tradução do mesmo livro. Com um detalhe. O texto, de 1833, nunca saiu no Brasil nem em Portugal. É um trabalho dificílimo, que Pushkin demorou oito anos para escrever e cuja tradução não demora menos que isso. E, quando enfim sai em português, há outra versão em andamento.
O resultado está a seguir, incluindo a parte que ficou de fora no site, os trechos das duas traduções. A ilustra é Pushkin no traço de Pushkin.
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Obra de Pushkin inédita no Brasil terá duas versões
A obra-prima russa Eugênio Oneguin, de Alexandr Pushkin, nunca tinha sido vertida ao português. A primeira tradução sai em breve pela Record e tomou mais de uma década do embaixador Dário Moreira de Castro Alves, tão trabalhosa era a empreitada – tem 5.523 linhas o romance em versos escrito de 1823 a 1831. A curiosidade é que Alves não foi o único a se debruçar sobre a obra tanto tempo depois. Há seis anos, o tradutor Alípio Correia Neto e a professora Elena Vássina dedicam-se à tarefa sob consultoria de Boris Schnaiderman. Ainda sem editora, a dupla levará mais de um ano até terminar. “Não é problema. Em tradução, quanto mais pontos de vista melhor”, diz Neto. Confira a primeira estrofe do capítulo 1 nas duas versões.
“Meu tio, honesto e mui honrado,
Já quando a sério adoeceu,
Soube exigir ser respeitado,
De melhor nada concebeu.
Para os demais é uma lição;
Porém, meu Deus, quanta aflição
Do dia à noite alguém tratá-lo,
Sem espairecer e sem largá-lo!
Já vede, pois, perfidamente –
Um meio-vivo a distrair,
Pôr-lhe almofadas a sorrir.
Dar-lhe remédios, tristemente,
Mas lá por dentro a imaginar,
Quando Satã te vai levar?”
TRADUÇÃO DE DÁRIO MOREIRA DE CASTRO ALVES, QUE SAIRÁ PELA RECORD
Meu tio, de altíssimos preceitos,
Quando ficou doente à beça,
Logrou dos outros o respeito
Sem invenção melhor do que essa.
O exemplo sirva de lição!
Mas, ai, meu Deus! Que chateação,
Passar com o moribundo as horas
Sem nunca pôr o pé pra fora!
Que insídia, ter que estar ao pé de um
Doente, entretê-lo o tempo inteiro,
Lhe endireitar o travesseiro,
Com aflição, lhe dar remédio
E com um suspiro, se indagar,
“Quando o diabo vai-te levar?”
TRADUÇÃO DE ALÍPIO CORREIA NETO E ELENA VÁSSINA, AINDA SEM EDITORA
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