A China operária nos anos 2000

Não me surpreendeu a repercussão nos comentários do Estadão.com sobre a capa de sexta do Caderno 2 para minha entrevista com Leslie T. Chang, ex-correspondente do Wall Street Journal em Pequim e autora do livro As Garotas da Fábrica. Os leitores se dividem entre quem acha o resultado da pesquisa manipulador e os que defendem que, ao contrário da jornalista, nenhum dos críticos entre os comentaristas esteve na China, não tendo portanto base para questioná-la.

De fato, ao pegar o título, eu esperava ler apenas denúncias sobre as péssimas condições de trabalho das operárias chinesas, já que a mulher ficou quatro anos só conversando com pessoas que trabalham nas fábricas e conhecendo Dongguan, cidade de 9 milhões de habitantes em que tudo gira em torno das indústrias (e que, pelas descrições dela, me lembrou uma coisa opressiva no estilo Brooklands, o subúrbio londrino descrito por J.G. Ballard em O Reino do Amanhã).

Há muito lá sobre isso, é claro. Se elas largam um emprego, ficam sem receber dois salários. Não têm direito a ver por dentro a fábrica onde vão trabalhar até serem contratadas. Não podem conversar durante o expediente, sob o risco de terem descontado parte do salário. Mas o livro segue rumo inesperado ao acompanhar bem de perto algumas dessas personagens. Não é fácil defender algo que já movimentou ativistas de direitos humanos (com resultados visíveis, segundo o livro), mas em alguns pontos Leslie Chang foi especialmente firme na nossa conversa: jornais tendem a procurar a manchete e generalizar; ainda não são as condições ideais de trabalho, mas as alternativas são muito piores; é o que eles querem e é o que lhes permite sair da linha da pobreza para uma nova classe média.

A crítica mais forte no Estadão.com, feita por um leitor protegido pelo codinome Clefonésio Astrogildo, com toda essa macheza opinativa que o anonimato permite, levanta pontos relevantes. Mas tudo o que questiona (incluindo o erro de avaliação do leitor) está descrito e muito bem explicado no livro. Ficou de fora da reportagem porque resumir  400 páginas em um pequeno texto com entrevista e ainda levantar novas questões também implica deixar muito de fora.

Enfim. A entrevista está abaixo. A quem quiser questionar a autora com propriedade, recomendo antes ler o livro, porque não posso fazer isso por ela. Mas é claro que comentários de quem assina embaixo são sempre bem-vindos.

***

O olhar feminino sobre a vida operária na China

Livro ‘As Garotas da Fábrica’ investiga como as indústrias mudaram a rotina das jovens no país

Raquel Cozer – O Estado de S.Paulo

Uma sátira a um anúncio da Nike que corre na internet mostra uma menininha chinesa de laço no cabelo costurando um tênis. Acima, o slogan da marca: “Just do it” (apenas faça isso). A ilustração alude às denúncias feitas nas últimas décadas contra grandes empresas americanas, acusadas de contratar mão de obra escrava e infantil em países asiáticos. Por curiosidade, a maior fabricante de tênis da Nike, a empresa Yue Yuen, foi a única que aceitou abrir as portas para a jornalista Leslie T. Chang quando ela iniciou as pesquisas para o livro As Garotas da Fábrica (2008), que sai agora aqui pela Intrínseca.

Nos anos 90, operários chineses trabalhavam até mais de 24 horas seguidas e tinham só uma folga por mês. Depois que ativistas dos direitos humanos protestaram contra as condições nas fábricas, as marcas americanas passaram a pressionar fornecedores a melhorá-las. Não chega a ser o paraíso na Terra – a jornada hoje é de 11 horas, com folgas aos domingos, e operários dividem dormitórios com uma dezena de colegas -, mas, na cidade industrial de Dongguan, ao sul do país, muitos consideram Yue Yuen um bom lugar para trabalhar.

Leslie Chang, americana que trabalhou de 1998 a 2005 como correspondente do Wall Street Journal na terra de seus pais, quis contar essa história por um ângulo que os jornais não abordam, o de como a industrialização transformou a trajetória de mulheres que saem das aldeias em busca de projeção na vida. Escolheu a metrópole de Dongguan, que tem algo em torno de 9 milhões de habitantes e cuja origem é indissociável das centenas de fábricas que compõem seu cenário, e ali acompanhou operárias por quatro anos, tempo em que as viu prosperarem, abrirem negócios, fecharem negócios, casarem. Veja a seguir os principais trechos da entrevista que Leslie deu por telefone ao Estado, de Colorado (EUA), onde vive com o marido.

Pelo que você conta no livro, a vida nas fábricas chinesas é melhor hoje do que quando surgiram as primeiras denúncias sobre as condições de trabalho…

Sim. De forma gradual, os pagamentos e as condições vêm melhorando. Se você olha para dez anos atrás, com certeza era tudo pior. Mas acho que, desde o início, as pessoas tiveram uma concepção errada dos trabalhadores migrantes, imaginando-os como escravos, todos oprimidos. Quis fazer o livro para mostrar um retrato mais completo e complexo desse cenário, para saber como essas pessoas veem suas próprias vidas. E não sinto que se vejam como vítimas.

E quanto a casos de fábricas que escravizam trabalhadores?

Bem, há algumas coisas sobre isso. Em primeiro lugar, o jornalismo – e eu fui jornalista por um bom tempo – tende a focar em casos de abuso ou injustiça. Então, o retrato que emerge dos trabalhadores não é o espelho de como é a vida da grande maioria deles. Fui atrás não das manchetes, mas do cotidiano. Outra coisa é que, quando você diz que um trabalhador ganha US$ 100 por mês, isso parece muito pouco, algo quase escravizante. Mas, quando vê o custo de vida dos trabalhadores, percebe que US$ 100 dá para muita coisa. Eles podem fazer todas as refeições pelo mês inteiro por US$ 3 ou US$ 4 e mandar de US$ 60 a US$ 80 para casa todo mês, o que é mais do que os pais deles ganham num ano inteiro. A quantidade de dinheiro que para nós parece pouco para eles é a diferença entre estar na pobreza ou fazer parte da classe média. Um dos pontos do livro é comparar a vida das mulheres com a que levavam nas aldeias de onde saíram. Trabalhar na fábrica não é viver no paraíso, mas é o que elas querem.

É curioso que as mulheres sejam quem mais tem a ganhar com as fábricas, sendo mais contratadas que os homens, por causarem menos problemas.

Antes de começar a escrever, tive contato com a parte rural do país. Aquilo sim é opressivo para jovens mulheres. Não há oportunidades, é uma cultura muito tradicional, sexista. Imaginava que viver na cidade poderia ser positivo para meninas de 18 anos, mas não sabia até que ponto até conversar com elas e ouvir suas histórias. Conheci migrantes mais antigas, que foram para Dongguan no início dos anos 90, e em 10 ou 15 anos elas mudaram para uma classe mais alta. Têm cargos mais altos dentro das fábricas, compraram apartamentos e carros, casaram-se, tiveram filhos. Se você vê só casos isolados, como fazem os jornais, não nota isso.


Sua descrição de Dongguan é a de uma cidade opressiva. Vendo imagens no Google, nem parece tão mal assim…

(Risos) Sim, sim. Quando comecei a escrever sobre a cidade, eu a achava opressiva, difícil, áspera. Ficava cansada só de estar lá. À medida que fui conhecendo as garotas e passando tempo com elas, Dongguan começou a ganhar vida para mim. Comecei a vê-la pelos olhos delas, com os restaurantes e parques que elas frequentavam, e aquilo se tornou um lugar mais humano.

Em que ponto decidiu incluir a história de seus antepassados, também migrantes, no livro?

Nasci e cresci nos EUA, e nunca tinha investigado nada sobre meus antepassados. Quando comecei a pesquisa, pedi licença no jornal e consegui tempo para visitar a aldeia da minha família, onde conheci parentes. Comecei a comparar as vidas deles com as das novas migrantes, e vi na história de meus avós e bisavós paralelos interessantes com as dessas garotas, no sentido de deixar tudo para trás em busca de uma vida melhor.

Alguma autoridade ou fábrica dificultou suas pesquisas?

Não muito. Queria escrever um capítulo sobre a vida dentro da fábrica, então entrei em contato com várias delas, e só Yue Yuen liberou e me deu acesso total a suas instalações. Acabei não tentando entrar em outras. O que acontecia com frequência era ouvir de garotas o pedido de que não as acompanhasse, para não lhes causar problemas.

Nesses dez anos em que viveu na China, o boom econômico foi muito perceptível?

Muito. Você vai a um restaurante e, quando volta, meses depois, toda a vizinhança foi derrubada para a construção de prédios. As cidades mudam mês a mês, e também a vida das pessoas. Em 1998, o governo anunciou um programa para incentivar a compra de apartamentos. Na época, meus amigos jornalistas e eu achávamos que isso não ocorreria, mas cinco anos depois todos tinham seus apartamentos. A mesma coisa com carros. A impressão que tenho é que eles estão se tornando modernos na economia, mas preservam ideias tradicionais. Mesmo as garotas das fábricas. Elas são livres, vivem com namorados, mas, ao mesmo tempo, querem casar cedo e ter filhos. E acham que têm que dar dinheiro aos pais porque devem a eles a educação recebida.

Mas há a questão da corrupção em todos os níveis, de que você trata no livro.

Acho que o mais difícil para os migrantes é viver nessa sociedade corrupta não só politicamente, mas também no nível pessoal, na qual todo mundo mente o tempo todo. Saí de Dongguan com a impressão de que essa é a pior coisa para a sociedade chinesa e o sistema político. Os maiores problemas não têm a ver com condições fabris, mas com a falta de saúde moral.

TRECHO

“Quando se encontrava uma garota de fábrica,…

…a primeira coisa era saber as referências. De que ano você é?, perguntava uma à outra, como se não estivesse falando de um ser humano, mas de fabricação de carros. Quanto por mês? Incluindo quarto e refeições?Quanto pelas horas extras? Podia então perguntar de que província era. Mas nunca perguntava o nome.

Ter uma amiga de verdade dentro da fábrica não era fácil. Dormiam 12 garotas em um quarto, e naquele ambiente claustrofóbico do dormitório era melhor guardar segredo. Algumas entravam para a fábrica com carteiras de identidade emprestadas e nunca diziam a ninguém os verdadeiros nomes. Outras só conversavam com colegas de sua província de origem, mas isso tinha lá seus riscos: o disse me disse percorria célere o caminho da fábrica até a aldeia, e, quando elas voltavam para casa, as tias e as avós sabiam quanto tinham ganhado, quanto tinham economizado e se saíam com rapazes.”

QUEM É

LESLIE T. CHANG
ESCRITORA

Filha de chineses que migraram para os Estados Unidos, Leslie Thonghe Chang formou-se em história e literatura americana pela Universidade de Harvard. Mudou-se para a China, em 1998, para trabalhar como correspondente do Wall Street Journal em Peguim, função que ocupou até 2005. De 2004 a 2007, fez as pesquisas para As Garotas da Fábrica (2008), seu primeiro livro. Vive hoje nos EUA.

Falando corporativês

Era para ter escrito algo aqui muito antes, mas foi uma semana tão curta que não teve jeito. O Sabático chegou ontem, com uma delícia de entrevista do Bira com o Umberto Eco e outras cositas más – incluindo a coluna Babel, de notas do mercado editorial, que ficará sob minha responsabilidade, com ajuda de outros repórteres.

Hoje saiu um texto meu no primeiro C2 Domingo, que – além de ter um conteúdo mais “revistizado”, como eles dizem – dará espaço para a cultura ligada a internet e tecnologia, assuntos que eu já abordava com frequência nos meus tempos de Ilustrada. Revirei o novo portal do Estadão (que, corporativismo à parte, achei muderno) em busca do link para a matéria – sobre quem são e o que pensam os raros usuários de e-readers no Brasil – mas está apenas na versão digital do jornal impresso. Segue abaixo o texto; no jornal, tá aqui, para assinantes.

***

Quem usa Kindle, no fim das contas?

Muito mais falado que usado no País, leitor de e-books já se tornou imprescindível para quem o comprou

Raquel Cozer

A sensação de quem lê livros no Kindle em ambientes públicos hoje em dia é mais ou menos como a de um pai ou uma mãe que sai para passear com o bebê.  Todo mundo que esbarra no dono de um e-reader para, faz festa, quer pegar e saber detalhes.

O leitor de títulos eletrônicos foi assunto abordado à exaustão pela imprensa cultural e de tecnologia no ano que passou, mas a verdade é que parcela ínfima da população brasileira chegou sequer a ver um de perto. Tanto é um artefato beirando o exótico que, em geral, a primeira descoberta de quem coloca as mãos num deles é a de que meter o dedo sobre o espaço do texto suja a tela. À primeira vista, ele dá a impressão de ser touchscreen, como o iPhone, mas não é.

Para os detentores de e-readers, porém, esses aparelhos já ocupam um  patamar que os celulares alcançaram por aqui nos anos 90: foi possível viver sem eles por décadas, mas deixar de usá-los agora seria um problemão.  Ao menos é essa a opinião de quem lê neles com frequência.  Em geral, gente que tem interesse bem acima da média nacional pela leitura e que comprou a ferramenta só para uso profissional antes de se render a ela.


Assim como os celulares não aboliram o telefone fixo, o Kindle também não elimina o livro impresso para essa primeira geração de usuários.  Os critérios de compra são diferentes, avalia o escritor e editor Paulo Roberto Pires. Com 1.500 títulos em papel em casa, sendo que na última limpa conseguiu desapegar de 600, carrega o Kindle que usa há nove meses com o que chama de volumes “meio descartáveis”, que ele não pode mais se dar ao luxo de tentar enfiar nas estantes.  Integram essa lista, hoje com 50 títulos, romances policiais, por exemplo.

Por estes, Pires até abre mão da “coreografia do livro” da qual todo leitor compulsivo conhece variações – e que quase sempre inclui a checada básica por cima para ter noção do quanto falta ler.  Os e-readers, que não numeram as páginas, até tentam facilitar a coisa: indicam a porcentagem de texto já superada. “Não é a mesma coisa.  Perde-se a noção de progressão”, avalia.

São os pequenos detalhes que incomodam, na opinião do escritor Sérgio Rodrigues, paladino do Kindle desde que ganhou um da namorada, no fim do ano passado.  Ele defende que a tela lembra tanto a de papel que “o aparelho fica invisível”, mas, como bom representante de uma geração que não nasceu na frente da tela de um computador, ainda encontra dificuldades. “Quando você está na página 80 e quer conferir o nome de um personagem na 20 é um saco.  Tem de voltar uma por uma.” O mecanismo de busca deveria facilitar a tarefa, mas como fazer a busca por um personagem cujo nome não se lembra?

Folhear faz falta, assim como ver a estante cheia.  A editora Mariana Zahar tem quase uma coleção de e-readers – um Sony Reader, um Cooler, um Kindle e um aplicativo de Kindle para iPhone –, mas não raro eles servem de aperitivo para a compra do título impresso.  Já aconteceu algumas vezes, quando começou a ler um livro num e-reader e foi para a praia – onde prefere ler em papel para não estragar o aparelho – ou quando achou o livro tão bom que “precisava ter em casa”.

É curioso que a maior desvantagem do Kindle em relação a plataformas como o Nook (e-reader da Barnes&Noble) e o iPad (dispositivo eletrônico da Apple) seja, na avaliação de Sérgio Rodrigues, sua maior vantagem: o fato de não ter acesso à internet.  Há algumas semanas, o escritor fez uma veemente defesa do Kindle em seu blog, o Todoprosa. “É um aparelho bisonho, quase jurássico, feito exclusivamente para ler”, escreveu. “Se você está lendo um romance, a última coisa que quer é um e-mail bipando.  As distrações on-line ficam de fora, é para ler livros e pronto, não serve para mais nada”, diz.

É possível que em algumas décadas não seja fácil encontrar quem entenda a opinião de que o “livro em papel é um objeto tecnologicamente perfeito”, como diz Paulo Pires.  Mas, por enquanto, difícil é não se identificar com uma charge publicada no último dia 10 no USA Today.  Nela, um homem observa a vitrine de uma livraria, onde lê-se o aviso: “Livros sem baterias”.

Do bordel às galerias

Tenho certo receio de romances históricos, mas a vida da chinesa Pan Yuliang, que inspirou A Artista de Xangai, vale o risco, e a estreante Jennifer Cody Epstein fez um bom trabalho com o material que tinha em mãos. De pesquisa, inclusive – a descrição da sociedade chinesa nos primeiros anos do século passado dá a dimensão. O livro merecia uma edição brasileira que não forçasse a barra nas frases da orelha e da contracapa (sério, “escolha dolorosa entre a arte e o amor” é de doer), mas, enfim. Escrevi sobre ele no Caderno 2 de hoje.

A vida da prostituta que virou pintora na China

A Artista de Xangai, romance de estreia da americana Jennifer Cody Epstein, parte da história real de Pan Yuliang (1899-1977)

Raquel Cozer

A trajetória da pintora chinesa Pan Yuliang (1899-1977), do bordel para o qual foi vendida aos 14 anos pelo tio viciado em ópio às galerias em que exibiu telas pós-impressionistas, inspirou um filme (Hua Hun, de 1994, com a atriz Gong Li) e um romance em seu país de origem. Numa sociedade em que as meninas tinham os pés esmigalhados por faixas de pano para que se mantivessem “diminutos como lírios perfeitos” na vida adulta, uma jovem que reproduzia a própria nudez em quadros não poderia passar despercebida.

O mundo ocidental dedicou bem menos atenção a essa história de contornos inusitados, embora tenha sido na França que Yuliang estudou artes plásticas e passou boa parte da vida. Foi por isso que, ao deparar com uma tela da pintora numa exposição de arte moderna chinesa no Museu Guggenheim, em 1998, a então jornalista Jennifer Cody Epstein se deu conta de que tinha ali um enredo melhor que a ficção. Ou bom o suficiente para inspirar uma.

A Artista de Xangai (tradução de Flávia Carneiro Anderson, Record, 452 págs., R$ 57,90), romance de estreia da autora norte-americana, serve-se de fragmentos e lacunas de informações sobre a vida da Yuliang para contar esse passado. Não tem o compromisso de se limitar à realidade, embora inclua uma extensa pesquisa de campo, com a leitura de obras sobre outros artistas chineses daquele período, dois anos de aulas sobre a cultura da China na Universidade de Columbia e uma tentativa – malsucedida – da autora de aprender a pintar. O resultado é uma narrativa que permite imaginar como uma chinesa se sentia, em 1913, por não ter tido “determinação” para continuar quebrando os ossos dos pés após a morte da mãe. E como a adolescente que viveu três anos num prostíbulo lidou com a transição para o mundo artístico sob a reprovação da elite conservadora.

A íntegra do texto tá aqui. Lá em cima, claro, é uma pintura dela.

E, abaixo, Hua Hun, o filme em que Pan Yuliang é interpretada pela Gong Li (de 2046 e Lanternas Vermelhas).

Por falar em Teerã

 

Vi só agora a grande vencedora do World Press Photo 2009, uma fotografia do italiano Pietro Masturzo sobre os protestos em Teerã contra Ahmadinejad.

Achei a história melhor que a imagem: o cara fez uma série de registros nas noites que se seguiram às eleições de junho de 2009, depois de se dar conta de que os protestos pelas ruas, registrados à exaustão, continuavam depois que o sol se punha, mas desta vez sobre telhados de casas. Embora as ruas ficassem vazias, gritos de “morte ao ditador” e “Deus é maior” ecoavam pela capital do Irã.

A imagem, que deixou para trás mais de 100 mil concorrentes, não chegou a ser publicada na época em nenhum grande jornal.

A galeria com todos os vencedores da WPP 2009 está aqui. O paulistano Daniel Kfouri ficou em terceiro na categoria esportes de ação, com esta foto aqui

Por dentro, mesmo, do jornal

Um novo recorde? O New York Times publica hoje 36 erratas, incluindo oito na mesma história.

O texto acima foi escrito por um jornalista do próprio New York Times e está acessível para milhões de leitores, mas, é claro, não no vetusto jornal, nem nas páginas virtuais da publicação. Entrou no ar no NYTPicker, blog que já completou um ano e ganhou há meses uma versão no Twitter, mas que continuaria fora do meu radar não fosse a dica do ex-colega da Ilustrada Gustavo Villas-Boas.

É impressionante que se mantenha ativo após tanto tempo. A descrição:  

Este site dedica-se exclusivamente ao que acontece dentro do New York Times – o jornal e a própria instituição. Escrito por uma equipe de jornalistas que preferem trabalhar no anonimato, NYTPicker fala sobre o funcionamento interno do principal jornal do país e faz comentários sobre seu conteúdo. Por favor, escreva para o NYPIcker com todas as informações, fofocas, sugestões e pensamentos sobre o New York Times. Todos os e-mails serão confidenciais.

Tem até reprodução de memorando assinado pela alta chefia dando conta de que a empresa resolveu verificar por que vários funcionários “ficaram doentes com sintomas gastrointestinais” num curtíssimo período de tempo. É de se imaginar o estrago que a ideia faria em algum jornal brasileiro…