Retrato de um viciado

A Companhia das Letras avisa, por e-mail, que publicará Portrait of an Addict as a Young Man, de Bill Clegg, livro sobre o qual escrevi na última coluna Babel. As memórias do agente literário que já foi viciado em crack devem sair por aqui em maio do ano que vem, sob o título Retrato de um Viciado quando Jovem.

Aqui, o trecho que foi publicado na New York Magazine.

No Sabático de 29/5 – parte 2

Nunca tinha ouvido falar no autor, o colombiano Evelio Rosero, mas poucas páginas do romance Os Exércitos bastaram para perceber que valia muito a pena. Depois vi que o livro foi bem elogiado (e premiado) na Espanha e em outros países onde chegou a sair. Recomendo sem ressalvas para quem se interessa por assuntos espinhosos (e até incompreensíveis para quem olha de fora) do gênero no noticiário.

A foto abaixo foi encontrada no final do ano passado com um guerrilheiro da Farc morto pelo Exército da Colômbia.

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Uma guerra de muitas facções

Romance de Evelio Rosero retrata o terror no cotidiano dos colombianos que moram longe dos grandes centros, num país tomado pelo confronto de décadas entre o Exército, paramilitares, guerrilheiros e narcotraficantes

Raquel Cozer – O Estado de S.Paulo

A infinidade de cartazes pelas ruas de Bogotá poderia levar o incauto a crer que, nesta véspera de eleição presidencial na Colômbia, a disputa pelo poder se equilibra entre dois polos – a situação, personificada no candidato Juan Manuel Santos, e a oposição, no nome do Partido Verde, Antanas Mockus. Mas são, na realidade, quatro as forças que há décadas decompõem o país: o Exército militar, o paramilitar, os guerrilheiros e os narcotraficantes.

Nesse cenário em que não se distingue quem é de fato criminoso – há poucos dias, um relatório da ONU apontou que militares foram responsáveis pela morte de 3 mil civis, depois travestidos de guerrilheiros – se passa a narrativa de Os Exércitos, romance de 2006 que rendeu ao colombiano Evelio Rosero, autor de outros 12 títulos, reconhecimento internacional (ganhou, por exemplo, o Independent Foreign Fiction Prize). Uma história que poderia ser a de qualquer morador dos recônditos do país, e portanto situada no fictício vilarejo de San José: o drama do professor Ismael Passos, de sua vizinha brasileira Geraldina Almida e de tantos outros que se veem atingidos física ou emocionalmente pelos efeitos de uma guerra difusa. “Há uma espécie de indiferença nas grandes cidades da Colômbia, onde o fenômeno da violência não é tão direto como em outras regiões. Ouvem-se as notícias de massacres como se tivessem ocorrido na Lua, e não a poucos quilômetros de casa”, diz a o escritor em entrevista ao Estado.

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A íntegra do texto está aqui. Outros dos textos da edição você localiza via @cultura_estadao.

No Sabático de 29/5 – parte 1

Depois posto o que mais tem no Sabático de hoje por aqui, incluindo meu texto sobre Os Exércitos, romance colombiano que diz muito sobre o país que passa pelo primeiro turno das eleições amanhã.

Por enquanto, vai a coluna, com mais um braço da Livraria Cultura no Cj. Nacional (e mais um capítulo da novela SOS Cinearte; lembram disso?). E, agora, almoço!

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BABEL

Raquel Cozer – O Estado de S.Paulo

NEGÓCIOS

Salas do Conjunto Nacional viram Cine Livraria Cultura

A partir de 1.º de agosto, o atual Cine Bombril, no interior do Conjunto Nacional, terá o nome Cine Livraria Cultura. A loja passará a patrocinar as duas salas do cinema, que continuarão a integrar Circuito Cinearte de exibição, de Adhemar Oliveira e Leon Cakoff. Haverá apenas uma pequena reforma antes da reabertura – a mudança maior foi em 2005, quando as salas até então chamadas de Cinearte receberam investimento de R$ 3,2 milhões da empresa de produtos de limpeza.

Com a nova alteração, a Cultura passará a ocupar os dois antigos espaços de cinema da galeria, já que sua atual sede foi construída no lugar do extinto Cine Astor. A novidade torna mais clara a expansão da livraria dentro do pioneiro prédio comercial da Avenida Paulista. A Cultura tem ali o Teatro Eva Herz e outras quatro unidades no térreo – a Arte, a Companhia das Letras, a Record e o Instituto Moreira Salles. Embora a programação de filmes continue a cargo do grupo Cinearte, a Livraria Cultura usará o espaço para palestras, avant-premières e noite de autógrafos .

CONTRATO

Horror brasileiro

A Rocco fechou contrato com André Vianco, raro best-seller nacional nos gêneros terror e fantasia. Lançará neste ano o “policial dark” O Caso Laura e, a partir de 2011, trilogia com “soldados, feiticeiras e deuses”.

Há dez anos, Vianco enviou originais a seis editoras, incluindo Rocco. Após recusas, lançou pela Novo Século o livro Os Sete, entre outros. Logo alcançou sucesso com sagas de vampiros, mas a onda pós-Crepúsculo ajudou: só neste ano, vendeu 120 mil livros.

DIREITOS
O show pôde continuar

And the Show Went On, sobre os anos culturais na Paris ocupada pelo nazismo, sai no exterior só em outubro, mas já teve os direitos garantidos pela Companhia das Letras. Repórter do New York Times por mais de três décadas – parte do tempo sediado no Rio -, Alan Riding nasceu no Brasil, foi criado na Reino Unido e hoje vive na França.

INTERNET
Os festivais no Twitter

“Filhote” do Hay Festival, que ocorre em dez localidades no mundo, a Flip está mais em alta na rede do que seu modelo. A dois meses da festa em Paraty, a página twitter.com/flip_se tem 6.000 seguidores. A twitter.com/hayfestival ainda está nos 3.800, sendo que o principal braço do evento, em Hay-on-Wye, está ocorrendo agora. Para atrair atenção, o Hay convidou Stephen Fry a eleger o “tweet mais bonito” já escrito. O resultado sai no dia 6, ao fim da programação.

ROCK
Tudo sobre The Doors

A Agir lança neste ano The Doors by the Doors, organizado por Ben Fong-Torres, o célebre editor da Rolling Stone que virou personagem no filme Quase Famosos. O livro saiu nos EUA em 2006, por ocasião dos 40 anos do álbum de estreia da banda. Inclui depoimentos dos ex-colegas Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore, e raras declarações da família de Jim Morrison.

MEMÓRIAS
Retrato de um viciado

A revista New York publicou trecho das memórias de Bill Clegg, agente literário que foi viciado em crack. “Tenho crack e um cachimbo usado no bolso da frente. Não sei como me livrar deles. (…) Engolindo? Talvez. E o cachimbo?”, ele relata em Portrait of an Addict as a Young Man, sobre a noite em que pensou estar sendo vigiado num hotel. Clegg perdeu autores best-seller, como Nicole Krauss, devido ao vício. Boa parte deles voltou quando o agente se livrou da droga. Leia em http://bit.ly/nymag1.

SEMINÁRIO
Estudos sobre o Brasil

A Brazilian Studies Association (Brasa), instituição nos EUA que apoia estudos sobre o Brasil, com destaque para literatura, sediará sua 10.ª Conferência Internacional em Brasília, em celebração aos 50 anos da capital. As palestras, de 22 a 24/7, incluem discussões sobre autores como Dalton Trevisan e Chico Buarque. A programação prévia entrou há pouco no site www.brasa.org.

No Sabático de 22/5

Os destaques da edição de hoje são os textos sobre Bolaño e 2666; a entrevista da Claudia Trevisan, na China, com o autor Yan Lianke, que teve livros banidos por lá; e o conto inédito do Sérgio Sant’Anna. Dá para achar tudo via @cultura_estadao. Posto aqui só o abre da coluna Babel, porque no site não entrou o mais interessante.

Foi o seguinte: na quarta, recebi um email do Boris Schnaiderman sobre o convite que eu tinha feito a ele para que resenhasse Eugênio Oneguin, do Pushkin. Ele pediu desculpas; não seria ético, já que está envolvido em projeto parecido. É sempre desanimador receber um não para convite de resenha, mas desconfiei de que tinha boa nota ali. Liguei pra ele e era melhor que a encomenda: o Boris faz a consultoria de outra tradução do mesmo livro. Com um detalhe. O texto, de 1833, nunca saiu no Brasil nem em Portugal. É um trabalho dificílimo, que Pushkin demorou oito anos para escrever e cuja tradução não demora menos que isso. E, quando enfim sai em português, há outra versão em andamento.

O resultado está a seguir, incluindo a parte que ficou de fora no site, os trechos das duas traduções. A ilustra é Pushkin no traço de Pushkin.

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Obra de Pushkin inédita no Brasil terá duas versões

A obra-prima russa Eugênio Oneguin, de Alexandr Pushkin, nunca tinha sido vertida ao português. A primeira tradução sai em breve pela Record e tomou mais de uma década do embaixador Dário Moreira de Castro Alves, tão trabalhosa era a empreitada – tem 5.523 linhas o romance em versos escrito de 1823 a 1831. A curiosidade é que Alves não foi o único a se debruçar sobre a obra tanto tempo depois. Há seis anos, o tradutor Alípio Correia Neto e a professora Elena Vássina dedicam-se à tarefa sob consultoria de Boris Schnaiderman. Ainda sem editora, a dupla levará mais de um ano até terminar. “Não é problema. Em tradução, quanto mais pontos de vista melhor”, diz Neto. Confira a primeira estrofe do capítulo 1 nas duas versões.

“Meu tio, honesto e mui honrado,
Já quando a sério adoeceu,
Soube exigir ser respeitado,
De melhor nada concebeu.
Para os demais é uma lição;
Porém, meu Deus, quanta aflição
Do dia à noite alguém tratá-lo,
Sem espairecer e sem largá-lo!
Já vede, pois, perfidamente –
Um meio-vivo a distrair,
Pôr-lhe almofadas a sorrir.
Dar-lhe remédios, tristemente,
Mas lá por dentro a imaginar,
Quando Satã te vai levar?”

TRADUÇÃO DE DÁRIO MOREIRA DE CASTRO ALVES, QUE SAIRÁ PELA RECORD

Meu tio, de altíssimos preceitos,
Quando ficou doente à beça,
Logrou dos outros o respeito
Sem invenção melhor do que essa.
O exemplo sirva de lição!
Mas, ai, meu Deus! Que chateação,
Passar com o moribundo as horas
Sem nunca pôr o pé pra fora!
Que insídia, ter que estar ao pé de um
Doente, entretê-lo o tempo inteiro,
Lhe endireitar o travesseiro,
Com aflição, lhe dar remédio
E com um suspiro, se indagar,
“Quando o diabo vai-te levar?”

TRADUÇÃO DE ALÍPIO CORREIA NETO E ELENA VÁSSINA, AINDA SEM EDITORA

E os vencedores

Só para encerrar o assunto, saíram os vencedores do concurso de trailers de livro. Não vou mais linkar um monte de vídeo aqui não. Eles criaram umas categorias de última hora. O Jonathan Safran Foer, que concorria em melhor performance de escritor, ganhou em performance mais irritante. O Grau 26, do Anthony Zuiker, que não aparecia entre nenhum finalista, ganhou na neocategoria maior gasto de dinheiro de um conglomerado. Isso e o resto você pode ver aqui.

Quase lá

A Melville House Publishing anunciou os finalistas do concurso de trailers de livros 2010 Moby Awards, sobre o qual escrevi na coluna faz algumas semanas, e cujo resultado sai nesta quinta-feira. Dois dos finalistas já apareceram aqui no blog: Vício Inerente, do Thomas Pynchon (na categoria performance de escritor, pela narração), e Lowboy, do John Wray (na categoria atuação, para Zach Galifinakis, o cunhado do noivo em Se Beber Não Case).

Além dos já citados, só curti outros dois trailers. I Am a Genius of Unspeakable Evil…, de Josh Lieb, em que Jon Stewart concorre pela atuação; e Going West, de Maurice Gee, na categoria grande orçamento.

A lista completa de finalistas está aqui.

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E uma curiosidade: um dos concorrentes de Thomas Pynchon na categoria performance de escritor é Gordon Lish, o editor que “inventou” Raymond Carver e descobriu Don DeLillo, no trailer de Collected Fictions.

Foi a primeira vez que vi qualquer menção a ele em que não fosse citado o Carver na sequência (ops, citei. E duas vezes). E, mesmo sabendo que não é opinião isenta, fiquei curiosa com uma declaração do DeLillo sobre a prosa do Lish:  “Gordon Lish, famoso por todas as razões erradas, escreveu uma das mais fascinantes ficções americanas nos últimos dez anos”. A conferir…

Eleições na literatura

Saiu faz algum tempo no Guardian, mas alcancei só agora via Google Reader, uma lista feita por John Mullan, professor de inglês da University College, com dez dos melhores livros de ficção sobre eleições na história da literatura.

Todos os títulos que ele escolhe foram publicados originalmente em língua inglesa, à exceção de Ensaio Sobre a Lucidez (traduzido por lá como Seeing), do Saramago. Os outros são Coriolannus, de William Shakespeare; Os Cadernos de Pickwick, de Charles Dickens; Sir Launcelot Greaves, de Tobias Smollett; Middlemarch, de George Eliot; The Way We Live Now, de Anthony Trollope; The Tragic Muse, de Henry James; Primary Colors, de autor anônimo; A Linha da Beleza, de Alan Hollinghurst; e The Absence of War, de David Hare.

Sem parar para pensar em como engrossar essa lista, o que me vem à cabeça é que por aqui temos eleições que parecem ficção. Serve?

No Sabático de 15/5

O repórter especial Antonio Gonçalves Filho volta com tudo das férias com dois destaques desta edição do Sabático, uma entrevista exclusiva com o Alfredo Bosi sobre Ideologia e Contraideologia, que sai pela Companhia das Letras, e uma conversa com Charles Cosac para a reportagem sobre Maria Martins, cuja obra é revista em Maria, da Cosac Naify. Mas, como faz parte disto aqui vender o próprio peixe, ou puxar sardinha pro próprio lado, qualquer uma dessas expressões aquáticas, segue a coluna Babel da semana.

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BABEL

Raquel Cozer – O Estado de S.Paulo

Investigação de maior furto do País contada em livro

A roteirista Carolina Kotscho, de 2 Filhos de Francisco, escreve para a editora Leya um livro sobre o maior furto já ocorrido no Brasil – a retirada, em 2005, de R$ 164,8 milhões do cofre da agência do Banco Central em Fortaleza. Convidada em 2008 a roteirizar um filme (que nunca saiu do papel) sobre o tema, ela conheceu Antonio Celso dos Santos, delegado responsável pelas investigações. Recebeu dele 20 caixas de material, incluindo até anotações em guardanapos. De lá saíram histórias pitorescas como a do dia em que, para prender um dos bandidos, a Polícia Federal alugou um caminhão e disfarçou 30 agentes de boias-frias. A ideia era parar na frente da casa do foragido durante a madrugada sem causar alarde na vizinhança, só que um jegue relinchou alto ao estranhar o barulho e frustrou os planos. A rede em que o bandido dormia, anotou Santos, ainda estava quente quando a PF entrou na casa, mas o homem tinha escapado. Previsto para sair em 2011, o livro contará histórias reais como essa com narrativa ficcional.

ACERVO
As caixas do matemático

Após anos de indefinição, o acervo de Malba Tahan – pseudônimo com o qual o matemático carioca Julio Cesar de Melo e Souza (1895- 1974) assinou obras como O Homem Que Calculava – encontrou abrigo na Unicamp. As 14 caixas com textos, fotos e objetos haviam sido doadas em 1985 pela família à cidade de Queluz, onde Tahan foi criado, mas nem foram abertas. Família e prefeitura decidiram oferecê-las à universidade, onde ficará disponível ao público.

EVENTO
Novo festival de quadrinhos

A Casa 21 prepara para novembro o festival de quadrinhos Rio Comicon 2010. Responsável por grandes eventos do gênero, como o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), em Belo Horizonte, a editora busca agora novo formato. Enquanto o FIQ é voltado ao mercado, o evento carioca focará na formação de público, com debates e oficinas, e pretende reunir nomes de peso.

INDEPENDENTE 1
Títulos em espanhol

Lançada em janeiro com a promessa de garimpar joias da literatura contemporânea, a Tinta Negra acaba de adquirir os direitos de dois títulos do galego Manuel Rivas (foto). Los Libros Arden Mal, Prêmio Livro do Ano de 2006 na Espanha, sai este ano. Em 2011, será a vez de ¿Qué me Quieres, Amor?, em cujos contos se baseou o filme vencedor do Goya de roteiro de 2000, A Língua das Mariposas.

INDEPENDENTE 2
Efeito zumbi

A pequena Quirk Books, presente nas listas de best-sellers nos EUA desde que passou a lançar títulos como Orgulho e Preconceito e Zumbis, fechou acordo de vendas e distribuição com a gigante Random House, válido a partir de 2011. Especializada em livros de gênero “irreference” (misto de irreverência e referência, em inglês), a QB foi citada pela revista Publishers Weekly como a “pequena editora de crescimento mais rápido de 2009”. A empresa que distribuía seus livros desde 2002 não deu conta do recado.

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No Brasil, onde saiu há quase dois meses, pela Intrínseca, Orgulho e Preconceito e Zumbis ainda não emplacou entre os mais vendidos. Das 20 mil cópias da primeira tiragem, foram vendidas 5 mil até o momento.

BEST-SELLER
Metamorfoses no além

A Planeta comprou os direitos de Maldito Karma, de David Safier, que virou best-seller na Europa, com 1 milhão de cópias vendidas só na Alemanha, contando uma história inusitada. Na trama, uma mulher morre e volta ao mundo como formiga – e, em vidas seguintes, como rato, gato e cachorro, sempre na casa onde vive sua família original.

LAÇOS
Encontro luso-brasileiro

Vencedor do Prêmio Portugal Telecom de 2009, Nuno Ramos terá a orelha de seu próximo título, O Mau Vidraceiro (Globo Livros), assinado por outro finalista do ano passado, o português Gonçalo M. Tavares. Para a organização, esse é um fruto bem-sucedido da meta de aproximar a produção literária dos países de língua portuguesa. Nuno estará hoje no Real Gabinete Português, no Rio, no evento que anunciará os 50 semifinalistas deste ano.

A primeira vez

Jim C. Hines, autor de livros de fantasia, fez entre fevereiro e março deste ano uma pesquisa com 246 autores de vários países que têm obras de ficção publicadas para saber como e quando conseguiram vender o primeiro livro e que atitudes tomaram para isso. Queria derrubar mitos, desses “pode”, “não pode”, “tem que” que todo candidato a autor ouve (isso ele diz, sei lá eu o que um candidato a autor ouve) quando tenta emplacar romances em editoras.

Por “autor profissional”, considerou qualquer um que tivesse publicado pelo menos um romance em uma grande editora, recebendo, para isso, um adiantamento de pelo menos US$ 2.000. Como o próprio pesquisador publicou títulos como Goblin, o Herói, ou algo que o valha, o resultado incluiu uma grande maioria de autores de fantasia (70), seguidos por “romances de romance” (40), infanto-juvenis e ficção científica (algo entre 30 e 40, em ambos os casos).

Ele cita um amontoado de dados aos quais não atentei, mas há uns interessantes. A certa altura, pergunta como os autores conseguiram emplacar nas grandes editoras. No Brasil, onde agentes são menos presentes e o mercado tem características todas próprias, seria diferente. Na pesquisa dele, livros oferecidos por agentes às editoras foram os mais bem-sucedidos (caso de quase 140 autores), seguidos de títulos oferecidos pelos autores diretamente às editoras (uns 70).

A curiosidade, para quem espera na literatura um fenômeno similar ao que aconteceu na música com o MySpace: menos de 10 autores publicaram o livro primeiro por uma pequena editora e, em seguida, conseguiram vender o mesmo título para uma grande. E um único autor, dentre todos, publicou o livro em seu site pessoal e, a partir disso, chamou a atenção de um editor.

Outro dado relevante foi o que o Boing Boing destacou (e que foi, é claro, onde vi a notícia, porque não frequento o site de Jim C. Hines, autor de Goblin, o Herói). A idade média com que os autores tiveram seus primeiros livros publicados foi 36,2 anos. Sobre quanto tempo tentaram antes disso, as respostas variaram entre 0 e 41 anos. A média ficou em 11,6.

A má notícia é que só uma pessoa demorou zero anos para emplacar o primeiro livro. A boa é que só um demorou 41 anos. Se bem que teve um outro ali que camelou por 40 anos.

E um último alento para quem realmente acredita que aqueles primeiros rascunhos da vida valem algo: 58 dos 246 autores conseguiram publicar o primeiro livro que escreveram. A maioria ainda precisou escrever uns três ou quatro antes de convencer um editor.

O tempo voa


(Dando a interpretação que bem entendo pro gif que peguei daqui.)

No Sabático de 8/5

A coluna Babel da semana está aqui. A reportagem de capa é minha, sobre tradução de literatura brasileira no exterior.  Taí, abaixo (Update: o link aparece aqui). Essa foto bacana do Salão de Paris (com três dos 30 homenageados nos 30 anos do evento) quem tirou foi Georgina Staneck, da Biblioteca Nacional.

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Barreiras no horizonte literário

Fomento que o MinC oferece para tradução de literatura brasileira no exterior se restringe a poucas bolsas em dinheiro; para quem acompanha o mercado, é preciso incentivar viagens de escritores e capacitar os tradutores

RAQUEL COZER – O ESTADO DE S. PAULO

O romance Sogni all’Alba del Ciclista Urbano saiu em 2008 na Itália, com tiragem de 4 mil cópias. A primeira edição, de capa dura, esgotou-se, e outra leva chegou às livrarias. O desempenho em vendas é similar ao que o livro teve no Brasil, onde foi publicado dois anos antes. Sim, porque Sogni all’Alba del Ciclista Urbano (“sonhos à alvorada do ciclista urbano”) é, conforme a capa do volume editado pela prestigiosa Mondadori, “il romanzo rivelazione della nuova narrativa brasiliana”. Trata-se de Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, lançado aqui pela Companhia das Letras. Trata-se também de um raro caso bem-sucedido num cenário tímido: o da tradução de obras literárias brasileiras no exterior.

Editores estrangeiros travaram conhecimento com a produção de nomes clássicos como Machado de Assis ainda nos primeiros anos do século passado. Décadas depois, passaram a publicar escritores contemporâneos, como Rubem Fonseca e João Ubaldo Ribeiro. Nestes anos 2000, percebeu-se ligeira proliferação de ficcionistas nacionais em outros países. Só nos últimos meses, para ficar em alguns exemplos, soube-se que Milton Hatoum teve Órfãos do Eldorado lançado nos EUA, dentro de uma série com “grandes mestres da narrativa contemporânea”; que O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, após ganhar edições italiana e francesa, entre outras, foi comprado por uma editora na Austrália; que O Enigma do Qaf, incensado pela imprensa na França (“O livro teria encantado Borges e Cortázar”, escreveu um crítico sobre a obra de Alberto Mussa), terá em breve a quinta tradução, agora na Turquia.

Por que, então, o que se via na década de 90 como crescimento discreto da exportação literária chega ao final desta sem ter evoluído quase nada? A resposta não é simples, embora num ponto autores, editores, tradutores e mesmo pessoas ligadas ao Ministério da Cultura concordem: num momento em que o País vive projeção política e econômica mundial, o governo gasta pouco, pouco demais, para divulgar a literatura feita por aqui.

Georgina Staneck/Fundação Biblioteca Nacional

Bolsas. Na última quarta-feira, Georgina Staneck passou o dia encerrada numa sala com colegas na Fundação Biblioteca Nacional. Ela precisava concluir um trabalho sobre o qual, no dia anterior, falava com paixão: selecionar as editoras estrangeiras que levarão as 20 bolsas de fomento à tradução oferecidas pela instituição, com valores entre US$ 1.000 e US$ 4 mil. “Tem esse da Clarice que torço muito que fique entre os 20”, comentou, referindo-se a uma fotobiografia sob cuidados de Nádia Battella Gotlib com a qual a mexicana Editorial Jus concorria a uma das bolsas – entre os critérios da seleção, são levadas em conta a representatividade literária e a receptividade de crítica e público. Não que fosse disputa concorrida. Só 39 editoras de todo o mundo demonstraram interesse pelas bolsas, o que resultou em menos de dois candidatos por vaga.

O resultado, a sair nos próximos dias no Diário Oficial, não interferirá na publicação ou não das traduções pelas editoras que concorrem, já que uma regra é que só sejam avaliados títulos comprados por editoras estrangeiras. “Você exige o compromisso de publicação, e acontece só uma vez por ano. É tão restritivo o horizonte de aplicação do programa que poucos tentam concorrer”, admite Marcelo Dantas, diretor de Relações Internacionais do MinC, hoje envolvido na incipiente tentativa de aprimorar o fomento.

Para o governo, um primeiro passo para superar as limitações foi dado com a criação de quatro níveis de valores de bolsa. Até 2009, todas eram de US$ 3 mil. “Uma coisa é traduzir um livro infantil, outra é Guimarães Rosa; uma coisa é verter para o espanhol; outra, para o chinês”, diz Dantas. Felipe Lindoso, que coordena no Itaú Cultural um mapeamento da literatura brasileira no exterior, não vê efeito na mudança. “O maior valor que dão hoje está longe de cobrir a tradução, mas o problema não é só esse. Em Portugal, eles levam o autor a países nos quais foram traduzidos. Não basta traduzir, tem de enviar o escritor para dar entrevistas, aparecer na TV.”

Esse é um dos trabalhos feitos pelo Goethe-Institut, que a cada ano traz cerca de meia dúzia de autores alemães para o Brasil – em abril, esteve aqui Rüdiger Safranski, para lançar Romantismo: Uma Questão Alemã (Estação Liberdade). Em 2008, o diretor Wolfgang Bader levou editores e tradutores brasileiros para a Alemanha. Ficaram duas semanas visitando editoras. “A questão é fazer com que outros países saibam o que há de interessante na produção alemã”, diz. A preocupação motiva o instituto a publicar listas de obras que foram ou não traduzidas, para que editores identifiquem lacunas.

Andre Lessa/AE

Exceções. No Brasil, ações para levar autores a outros países são isoladas, não raro promovidas por diplomatas que se interessam pela literatura nacional. Em outros tempos, chegou a receber alfinetadas da imprensa a iniciativa do tradutor Eric Nepomuceno, então secretário de Intercâmbio e Projetos Especiais do MinC, de promover viagens com escritores – falava-se em “trem da alegria”. No ministério, Nepomuceno criou ainda, com apoio do Itamaraty, um programa de escritor-residente em universidades dos EUA. A secretaria foi fechada em 1998, e o programa, encerrado. “Não adiantam atitudes pontuais. É preciso fazer apostas a longo prazo. Outros países têm política de continuidade, artilharia pesada. Nós temos foguetinhos espalhados ao léu”, diz Nepomuceno, crítico do fomento da FBN. “Cada edital não chega a R$ 100 mil. Comparando com Alemanha, França, Espanha, é constrangedor.”

Patricia Melo diz se sentir privilegiada por ter romances traduzidos em “toda a Europa e nos EUA”. Viajar para divulgar lançamentos, afirma, faz diferença. “A recepção é diferente. Você participa de um debate que chama atenção para o seu livro e para o que se produz no Brasil.” Boa parte do mérito ela credita aos agentes literários. “Minha primeira agente dizia que para trabalhar com autores brasileiros era preciso paixão, para compensar a frustração da empreitada.”

De fato, editoras e agentes são os maiores divulgadores de autores no exterior, o que coloca a venda de direitos autorais mais como negócio que como estratégia cultural. É com ênfase ao lado comercial que trabalha o projeto Brazilian Publishers, uma parceria da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações, subsidiada pelo governo) com a CBL (Câmara Brasileira do Livro). A meta é capacitar editores para que cheguem às feiras internacionais com perspectiva de vender direitos de seus autores, e não apenas comprar.

Para tradutores, o benefício de difundir a literatura vai além da economia. “Há utilidade em termos políticos e turísticos”, avalia Berthold Zilly, professor de literatura latino-americana na Alemanha, “mas é acima de tudo importante para a compreensão e o enriquecimento cultural.” Dantas, do MinC, enfatiza esse aspecto. “Ao exportar literatura, você explica ao mundo quem você é de maneira profunda, sai dos clichês.”

A agente literária Lucia Riff chama de “trabalho de formiguinha” o que faz para divulgar seus agenciados, como Lya Luft e Luis Fernando Verissimo. Casos como o da edição italiana de Mãos de Cavalo, que ganhou segunda tiragem, são raros. Até mesmo para Galera, que, agenciado por uma italiana e por sua editora no Brasil, calcula ter vendido algo entre 500 e mil cópias do livro em outros países. “Em geral, fica nos 3 mil”, diz Riff sobre as obras de seus autores no exterior. “Se reimprime, a gente solta foguete.”

O desconhecimento da língua portuguesa é outro entrave. Riff diz que precisa traduzir por conta trechos de livros para apresentar em feiras. Zilly, que já verteu na Alemanha Machado de Assis e Euclides da Cunha, lembra que estudiosos de língua portuguesa costumam falar espanhol, embora o inverso não ocorra. E levanta um ponto delicado, de certa forma relacionado: “Quais são os grandes nomes da literatura brasileira hoje? Da América hispânica, saíram Roberto Bolaño, Cesar Aira, Jorge Volpi. O Brasil tem o quê? Ok, há Milton Hatoum, Bernardo Carvalho. Pode haver outros fantásticos, mas não chegam até nós.”

O alemão destaca ainda prêmios para tradutores, que existem em vários países. No Brasil, ele recebeu só condecorações. “Acho bonito, gosto de ser honrado, mas dinheiro faz diferença.” Capacitação de tradutores e intercâmbio de autores são propostas que, para o MinC, até soam bem, mas só no plano das ideias. Por enquanto, a prioridade é apenas aumentar o número de bolsas de tradução, das 20 para 100 anuais, e incluir editoras brasileiras na concorrência, de modo que possam oferecer títulos já traduzidos a estrangeiros. Definir prazos para isso é outro assunto.

No Sabático de 1/5

Texto sobre Afluentes do Rio Silencioso, a.k.a. Lowboy, de John Wray

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Dentro da mente e sob o solo

Reconhecido pela crítica e pelo público dos EUA, John Wray, de 38 anos, fala sobre Afluentes do Rio Silencioso, romance que narra a saga de um garoto esquizofrênico pelos metrôs de Nova York

Raquel Cozer – O Estado de S.Paulo

Num vídeo que corre na internet, o escritor John Wray e o ator Zach Galifianakis (de Se Beber, Não Case) invertem papéis, e Wray, bancando o repórter, bombardeia o outro com perguntas repisadas como “Por onde você começou o romance?” e “Qual sua inspiração para criar a personagem Violet?”. A cena foi pensada em 2009 para divulgar o terceiro livro de Wray, Lowboy, e acabou servindo à perfeição para uma situação que o autor americano passaria a viver com frequência desde então.

Elogiado pela crítica de seu país já no romance de estreia, The Right Hand of Sleep (2001), e eleito em 2007 um dos melhores jovens romancistas americanos pela prestigiosa revista inglesa Granta, Wray alcançou o interesse de um público amplo graças a Lowboy, lançado agora por aqui como Afluentes do Rio Silencioso. A história de William Heller, garoto esquizofrênico de 16 anos que escapa da clínica psiquiátrica e empreende uma saga pelo metrô de Nova York, tinha todos os ingredientes para firmar Wray como astro literário. Com linguagem e narrativa trabalhadas nos menores detalhes, mas também pensado de forma a não obscurecer a leitura, o romance recebeu críticas carregadas de elogios de veículos como a New Yorker e o New York Review of Books, ao mesmo tempo em que evidenciou o perfil pop do autor.

Aos 38 anos, visual criteriosamente blasé e enorme talento para aparições em vídeo, Wray passaria sem dificuldade por um músico de grupo indie (chegou, inclusive, a fazer parte de bandas, “mais por amor à música que por habilidade”). Nasceu John Henderson, mas passou a usar o sobrenome com que assina seus romances por influência de King Kong, o filme de 1933 – sua argumentação para isso envolve a atriz Fay Wray e o costume adolescente de pensar no gorila gigante carregando-o sempre que tinha preguiça de levar alguma tarefa a cabo.

[…]


***


A íntegra do texto está aqui. O texto do John Wray sobre as músicas que ouviu enquanto escrevia o romance, de que falo ao fim da reportagem, está aqui. E e o vídeo a que me refiro no primeiro parágrafo está abaixo.

***

E a coluna Babel, a seguir. Antes, os Moomins, sobre os quais escrevo na segunda nota, na versão infantil e na versão mais adulta e nonsense que foi parar nos jornais (e cuja edição pela Drawn & Quarterly foi indicada ao Eisner em 2007)

Moomin para crianças...

...e na versão nonsense

Babel

Filme na web tenta desvendar o que é má literatura

Tem estreia prevista para agosto – na internet, mesmo – o documentário Bad Writing, que o americano Vernon Lott vem produzindo desde 2007. Lott selecionou poemas que escreveu na adolescência e entrou em contato com mais de 100 nomes do universo literário, para que analisassem seus textos e, além disso, falassem sobre seus próprios primeiros passos como escritores. “Cerca de 75% dos autores que procurei nem se dignou a responder, mas os que falaram foram receptivos à ideia de desmistificar a evolução do processo criativo”, disse o documentarista a esta coluna. Margaret Atwood, David Sedaris e outros falam sobre tropeços de início de carreira e a respeito de gente como a irlandesa Amanda McKittrick Ros (1860-1939), “amplamente considerada a pior escritora em língua inglesa”, e o americano Theodore Dreiser (1871-1945), “estimado e, ainda assim, muito ruim”, segundo Lott. Com uma hora e meia de duração, o filme terá legendas em idiomas ainda não definidos. O trailer pode ser visto em vimeo.com/10913506.

QUADRINHOS
Moomins enfim em português

A Conrad lança neste ano o primeiro livro em português da série de tiras Moomin. Criados como personagens infantis pela finlandesa Tove Jansson nos anos 40, os seres arredondados acabaram adaptados para tiras adultas. Os livros infantis foram muito populares, mas a versão nonsense serializada por jornais ficou esquecida até 2006, quando a editora Drawn & Quarterly publicou o primeiro livro de uma coleção.

AUTOFICÇÃO
Drama real reconstruído

Vencedor do prêmio de melhor ficção de 2009 do jornal Los Angeles Times, A Happy Marriage, do americano Rafael Yglesias, foi comprado pela Record. Yglesias, roteirista de filmes como Os Miseráveis, transformou a história real de seu casamento até a morte da mulher, com câncer, num “trabalho de arte e da imaginação”, segundo o jornal New York Times.

DIREITOS
Tony Judt em três obras

Prestes a publicar Reflexões Sobre um Século Esquecido, de Tony Judt, a Objetiva já adquiriu os direitos de duas outras obras: Ill Fares the Land, recém-lançado nos EUA, e um volume de ensaios que vêm sendo publicados no New York Review of Books. Num deles, Night, Judt relata como é atravessar as noites com a esclerose lateral amiotrófica, doença que o tornou paraplégico – “como uma múmia moderna, sozinho na minha prisão corporal, acompanhado somente por meus pensamentos”, escreve.

PREMIAÇÃO
Trailers de livros

A editora americana Melville House acaba de lançar o 1º Moby Awards (2010mobyawards.wordpress.com), que premiará trailers de livros em categorias como o melhor com baixo orçamento, o que traz melhor aparição do autor e o menos propenso a ajudar nas vendas. A entrega será em 20 de maio.

TRADUÇÃO
Estreia em francês

À Margem da Linha, romance escrito nos anos 80 por Paulo Rodrigues e publicado em 2001 pela Cosac Naify – o que tirou do anonimato o então assessor sindical nascido na periferia de São Paulo -, acaba de ser lançado na França pela editora Folies D”Encre, que já publicou por lá autores como Carlos Heitor Cony e Moacyr Scliar.

NO BRASIL
Presenças na Bienal e na Flip

O norueguês Jostein Gaarder, do aclamado O Mundo de Sofia – livro de 1991 que, traduzido para mais de 50 idiomas, iniciou milhões de jovens no universo da filosofia -, estará na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em agosto. Dois meses antes, a Companhia das Letras lança O Castelo dos Pirineus, de sua autoria.

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O britânico Peter Burke, especialista em Idade Moderna Europeia, dividirá mesa com o americano Robert Darnton na Flip, anunciou a organização. Maria Lucia Burke, mulher de Peter, estará em um debate sobre Gilberto Freyre. Ela ajudou o evento a organizar a homenagem ao sociólogo.