No mercado, mais e melhores títulos

A reportagem abaixo saiu neste último sábado, dia 28, como parte do material de capa do Sabático sobre literatura infantil, acompanhando texto do Toninho feito a partir de entrevista com o teórico Peter Hunt. A foto é do Robson Fernandes/AE e foi feita na Biblioteca Monteiro Lobato.

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No mercado, mais e melhores títulos

Compras do governo brasileiro ajudaram a aquecer o setor, atraindo editoras e livrarias para produtos de qualidade

RAQUEL COZER

O boom de séries como Crepúsculo e Percy Jackson colocou o filão literário juvenil entre os mais visados desta década, o que ajudou a encobrir, para o público em geral, a percepção de outro crescimento significativo no setor editorial do País – o da literatura para crianças.

Uma análise das últimas quatro pesquisas anuais de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, conduzidas pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), dá essa dimensão. Em 2006, editoras brasileiras colocaram no mercado 321 milhões de exemplares de livros, número que passou para 386 milhões em 2009 – aumento de cerca de 20%. A literatura juvenil foi a que mais engrossou no período (256%), seguida da infantil (124%). Ainda assim, a produção de obras literárias para crianças (28,7 milhões de exemplares em 2009) permanece à frente das obras para jovens (26,8 milhões).

Hoje, só livros didáticos e religiosos são mais produzidos que os de literatura infantil no País, mas o fenômeno é recente. Até o ano retrasado, o terceiro lugar era da literatura adulta, cuja produção teve queda de 6% desde 2006.

Para quem acompanha de perto esse cenário, os números não chegam a surpreender. Historicamente dominado por empresas que também editam didáticos, como Ática e Moderna, o mercado de literatura infantil ganhou variedade e qualidade nas últimas décadas, quando passaram a se dedicar à área editoras já estabelecidas com catálogo adulto, como Martins Fontes (nos anos 80), Companhia das Letras (nos 90) e Cosac Naify (anos 2000), e chegaram outras especializadas nesse público, como Brinque-Book e a espanhola SM.

A grande virada aconteceu depois que, em 1997, o Ministério da Cultura criou o Programa Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE), pelo qual o governo passou a adquirir enormes quantidades de títulos literários. Os critérios foram (e ainda são) muito questionados. A princípio, pouquíssimas editoras emplacaram dezenas de títulos. Com o tempo, restringiu-se o número de obras por editora, mas então algumas das maiores passaram a concorrer com títulos espalhados por diferentes registros de empresa.

Ainda assim, a simples possibilidade de concorrer a uma das generosas tiragens da compra federal estimulou os grupos a editarem mais e melhores livros. “O mercado infantil ainda tem vendas baixas. A maior parte sai com 3.000 cópias e demora anos para vender”, diz Júlia Schwarcz, editora da Companhia das Letrinhas. “Mas, se o governo seleciona, a compra é de 20 mil, 40 mil exemplares. Com isso, os selos infantis ficaram importantes dentro das editoras.”

A Cosac Naify ilustra bem esse efeito. Dos cerca de 750 títulos de seu catálogo, um terço é de literatura infantil, mas o faturamento desse nicho já corresponde a 40% do total anual da empresa, tornando-se seu carro-chefe. A editora teve ainda papel central na evolução da qualidade gráfica dos títulos editados, sendo inclusive bem-sucedida em duas áreas nas quais as casas brasileiras ainda são tímidas, os prêmios internacionais e as vendas de títulos infantis para o exterior – só neste ano, comercializou três obras.

A produção maior alimentou também o setor livreiro. Lojas voltadas para o público infantil, como as paulistanas Novesete e Casa de Livros, ganharam destaque e passaram a competir com seções cada vez maiores nas megastores. “Você precisa de mais espaço para armazenar a produção. A venda justifica isso”, diz Frederico Indiani, diretor comercial da Saraiva. Na Cultura, a comercialização de infantis cresceu 25% em relação aos oito primeiros meses de 2009, enquanto as vendas gerais tiveram aumento de 15%.

A coluna da semana

[publicada no Sabático de 28/8]

BABEL

Raquel Cozer – raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

CLÁSSICO
Reedição de A Comédia Humana organizada por Rónai sai em 2011

A Globo Livros coloca nas livrarias no começo do ano que vem o primeiro volume da íntegra de A Comédia Humana, de Honoré de Balzac, na celebrada tradução coordenada por Paulo Rónai (1907-1992). O projeto, que reuniu em 17 livros os 88 títulos da obra, começou a ser organizado pelo tradutor e crítico literário ainda na década de 40 e demorou dez anos para ser concluído, contando com versões de Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e Brito Broca, entre outros. Na década de 80, a Globo fechou acordo com Rónai para revisão geral, e os títulos voltaram a ser editados, desta vez com mais de 7 mil notas de rodapé e um prefácio do húngaro naturalizado brasileiro para cada volume. O primeiro livro da edição de 1989 teve 15 mil cópias vendidas. O conjunto estava fora de catálogo havia 15 anos e, após contrato com as herdeiras de Rónai, sairá em novo projeto gráfico. A princípio, a edição ficará a cargo de Joaci Furtado – mesmo com a despedida dele da Globo Livros, anunciada na semana passada, para se dedicar a um novo trabalho.

CINEMA
Revista resgatada

Editada de 1954 a 1958 no Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais, com curta sobrevida nos anos 60, a Revista de Cinema ganhará neste ano, pela Azougue, antologia organizada por Marcelo Miranda e Rafael Ciccarini. A previsão é a de que saia em dois volumes, resgatando textos de nomes como Cyro Siqueira, Jacques do Prado Brandão e José Haroldo Pereira.

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A publicação repercutiu no País e chegou a ser reconhecida no exterior ao discutir temas como neorrealismo italiano e cinema brasileiro. Prestes a ser fechada, recebeu de Paulo Emílio Sales Gomes, no Suplemento Literário, do Estado, apelos para que não deixasse de circular. O colunista do Sabático Silviano Santiago, um dos principais articulistas da revista, assinará o prefácio.

NO BRASIL-1
Best-seller contra a maré

O americano Nicholas Sparks, que entre anjos e vampiros cavou espaço para seus romances açucarados e hoje aparece em dose dupla nas listas de mais vendidos, com Querido John e A Última Música, chega ao Brasil na primeira semana de dezembro para visitar Rio, São Paulo e Porto Alegre. Antes disso, a Novo Conceito publica outro título dele, Diário de Uma Paixão.

NO BRASIL-2
Britânico no Rio ComiCon


O desenhista inglês Kevin O”Neill, parceiro de Allan Moore na série As Aventuras da Liga Extraordinária, confirmou participação no primeiro Rio ComiCon, que ocorre durante dez dias de novembro, com exposições, palestras, oficinas, vídeos e venda de quadrinhos. Segundo a Casa 21, organizadora do evento, a vinda do italiano Milo Manara ainda depende de “pequenos acertos”.

QUADRINHOS
Nova adaptação de Dante

A Peirópolis lança em 2011 HQ de A Divina Comédia, de Dante, ilustrada a nanquim e aquarela pelo cartunista e grafiteiro Piero Bagnariol. O texto do Purgatório será o adaptado por Henriqueta Lisboa (1901-85). Outra versão em quadrinhos de A Divina Comédia, já antecipada pela coluna, será a de Seymour Chwast, pela Quadrinhos na Cia.

INTERNET
Suas estantes combinam?

Uma nova rede social, Alikewise.com, propõe-se a encontrar o par perfeito para os usuários com base no gosto literário. O criador, Matt Sherman, disse que teve a ideia ao imaginar que sua mulher ideal deveria conhecer A Lógica do Cisne Negro, livro de Nassim Nicholas Taleb sobre o improvável.

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Por enquanto, a rede só aceita usuários de países de língua inglesa. E precisa de ajustes. Em procura por Borges, localizou 13 usuários (um deles aceitava companheiras de 18 a 99 anos), mas avisou que havia “expandido a busca” para incluir títulos com alguma relação com o argentino. Na busca por Thomas Pynchon, a obra mais recorrente foi 1984, de George Orwell, prefaciada pelo autor de O Arco Íris da Gravidade.

A coluna da semana

[publicada no Sabático de 21/8]

BABEL

Raquel Cozer – raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

MERCADO
Editoras registram vendas mais expressivas na Bienal do Livro 2010

O balanço de público da 21.ª Bienal do Livro de São Paulo será anunciado amanhã, mas ao menos um resultado desta edição já foi notado por editores: o aumento no número de livros vendidos na comparação com o mesmo período do evento paulistano em 2008. O maior salto dos primeiros dias levantado pela coluna foi o da Record: 90%. A Objetiva teve crescimento de 55% e a Zahar, de 38%. Chama a atenção também o fato de, em alguns casos, o aumento ser perceptível até na comparação com a Bienal do Rio, que costuma fazer maior caixa. O estande conjunto da Companhia das Letras e da Zahar, por exemplo, teve aumento de 12% na comparação com o mesmo período do evento carioca de 2009. Mas editores, que dão brindes e descontos nas vendas, dizem que o investimento em bienais ainda não se paga financeiramente. “É ganho institucional. Ganha-se espaço na mídia e na mente do público, que vê as marcas de perto”, avalia a editora Mariana Zahar.

FICÇÃO
Novo selo no mercado

Após recuperar os 51% em ações que havia vendido em 2007 à franco-espanhola Anaya-Hachette, o grupo Escala entrará na área de ficção, não contemplada por seus selos atuais. Detentor nacional da Larousse – especializada em obras de gastronomia e interesse geral -, o grupo lança em fevereiro os títulos iniciais de sua nova marca, a Lafonte, focada em literatura contemporânea.

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A Escala não divulga o valor do investimento, mas a aposta é grande. Saem pela Larousse cerca de 100 títulos por ano; com a Lafonte, a intenção é pôr no mercado (considerando livrarias, bancas e vendas porta a porta) 400 obras em um ano. A diretora editorial Janice Florido diz já ter “autores estrangeiros conhecidos e que despontam”. Literatura nacional, só num segundo momento.

GASTRONOMIA – 1
Ciência na cozinha

On Food and Cooking, livro seminal de Harold McGee sobre ciência e culinária, publicado em 1984 e reeditado em 2004, sairá no Brasil no ano que vem pela WMF Martins Fontes. O colunista do New York Times analisa ingredientes e suas interações com o corpo e explica questões como a natureza da fome, o que ocorre quando um alimento se estraga e por que o álcool embriaga.

GASTRONOMIA – 2
Crise na culinária

Já a Zahar lança em outubro um título que deu o que falar no exterior. Em Adeus aos Escargots, Michael Steinberger mergulha em questões culturais, econômicas e políticas para decifrar o que ocorreu com a França, cujos chefs e restaurantes perderam lugar entre os mais influentes do mundo.

DIGITAL
Propaganda no e-book

Artigo no Wall Street Journal de anteontem defende a ideia de que anúncios serão inevitáveis nos e-books. O WSJ avalia que a queda no preço dos livros, combinada com o formato propício à publicidade – o e-reader pode ter anúncios sempre atualizados -, tornará essa a melhor saída para os editores. Mas o texto argumenta que o interesse dos autores em controlar o conteúdo anunciado pode originar novos impasses.

CLÁSSICOS – 1
Inéditos em coleção

Parte da tentativa do grupo Ediouro de reposicionar títulos de seu imenso catálogo, a recém-anunciada Coleção Fronteira – que sai pela Nova Fronteira com edições mais simples e preços abaixo dos R$ 30 – incluirá textos inéditos em livro. Entre eles, ainda neste ano, Mário no Cinema, reunião de ensaios de Mário de Andrade, e um volume com o teatro completo de Antonio Callado.

CLÁSSICOS – 2
Teatro brasileiro

Por falar em teatro (e em livros mais baratos), a Penguin Companhia Clássicos deve ter selo exclusivo para dramaturgia no primeiro semestre de 2011. A princípio, serão textos de peças brasileiras do século 19 e início do 20 que estejam fora de catálogo.

Colaborou Ubiratan Brasil

Os escritores na história da Time

Muito se falou sobre Jonathan Franzen como o primeiro ficcionista em dez anos a merecer a capa da Time, mas só o site The Millions parou para fazer um restrospecto dos escritores a receberem destaque na revista e avaliar o que isso diz a respeito da cultura literária nos EUA (na verdade, como o site lembra, o próprio Franzen chegou a escrever para a Harper sobre como as escolhas da publicação, de James Joyce a Scott Turow, provam o declínio cultural da América).

O primeiro destaque literário da Time, Joseph Conrad (imagem acima), apareceu logo na sexta edição da revista, em abril de 1923, em reportagem sob o título A great novelist to visit the United States. Até o final dos anos 30, em 18 anos de revista, 37 capas foram dedicadas a autores, incluindo nomes como H.G. Wells, Gertrude Stein, James Joyce (duas vezes, por Ulysses e Finnegans Wake) e Ernest Hemingway. Ou seja, pelo menos duas vezes por ano escritores estamparam a capa da publicação.

Nos 20 anos seguintes, de 1940 a 1959, esse número caiu para 17, menos de uma capa por ano, com Eugene O’Neill e T. S. Eliot entre os destaques. A média se manteve nas duas décadas posteriores, consideradas entre 1960 e 1979.

Dali para a frente, só queda: de 1980 e 1999,  mais 20 anos, um autor a cada três anos mereceu capa (e aqui já estamos falando quase só de best-sellers, como John Irving e Michael Crichton).

E, nos dez anos de 2000 a 2009, apenas Stephen King, em sua segunda capa na revista – mas que, desta vez, na verdade, era sobre internet (imagem abaixo).

O que isso diz sobre a cultura dos Estados Unidos? A análise toda está aqui, com links para todas as reportagens de capa na história da Time, com imagens.

Com muito atraso, a coluna de 7/8

Opa. Tinha esquecido de postar aqui a coluna do sábado passado, apurada em meio a pedras de Paraty e a uma gripe interminável (que completa hoje 11 dias, um recorde na história dessa imunidade que não tenho). Algumas notícias aí já estão velhinhas, como a do Google, mas, se consola, elas eram brand new no sábado.

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BABEL

Raquel Cozer, raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

Ediouro quer apresentar “nova cara” até o fim do mês

Há dois meses acumulando função de publisher da Nova Fronteira e da Agir, Leila Name corre para apresentar até o fim do mês a “nova cara” dos selos do grupo Ediouro – a meta é, depois da Bienal do Livro, mostrar um desenho do que cada marca do grupo passará a publicar. “Temos pressa de concluir um projeto editorial. O grupo vai bem e queremos passar essa informação ao mercado”, disse à coluna. Por enquanto, o que o mercado viu foi enorme expansão, com a compra de editoras, seguida de indefinições e da saída de nomes como Izabel Aleixo (Nova Fronteira) e Paulo Roberto Pires (Agir e projetos especiais). O último revés foi o pedido de demissão de Carlo Carrenho, nesta semana. Até meses atrás, ele era publisher da Ediouro e da Thomas Nelson. Como os títulos do grupo estão sendo redivididos entre os selos e os que sairão como Ediouro são incógnita, o carro-chefe do grupo tinha saído do comando de Carrenho, que estava só com a Thomas Nelson. Em Paraty para a Flip, de folga, disse que se dedicará ao Publishnews, do qual é dono.

RELIGIÃO
Ateísmo “simplista”

O livro sobre o qual Terry Eagleton fala hoje na Flip, Reason, Faith and Revolution, já tem dono no Brasil. Assim como Why Marx Was Right, sai pela Nova Fronteira em 2011. Em Reason…, que reúne aulas ministradas na Universidade de Yale, o crítico cultural materialista questiona o racionalismo defendido por Richard Dawkins e Christopher Hitchens, avaliando como “simplista” o radicalismo com que defendem o ateísmo.

SUSTO 1
Como se fosse Teerã

A iraniana Azar Nafisi (foto), outra convidada do evento literário, levou um susto ao ouvir o estalido de bombinhas com as quais as crianças brincavam na praça do centro histórico de Paraty, perto da Flipinha. “Puxa, nasci em Teerã, as pessoas não deviam ficar estourando coisas perto de mim.”

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Envolvida na luta pela libertação da iraniana Sakineh, condenada à morte por apedrejamento, Nafisi admite que gostaria de poder falar menos de política e mais de literatura. Não por acaso, a autora, que vive em Washington, agora escreve o livro Republic of Imagination, sobre como a literatura “pode ser o lar de quem não tem mais um lar”.

SUSTO 2
Amor, mas só no papel
A Bienal do Livro destacou em seu material de divulgação três mesas do Salão de Ideias sobre o livro digital, um dos temas da edição. Uma delas pegou Ana Maria Machado de surpresa. Anunciada em debate sobre “o romance fora da página”, que questionaria “para onde vai a subjetividade do escritor e do leitor”, a autora disse que não era bem assim – falará, sim, sobre amor e literatura, mas nada de digital. A organização informou que o material seria corrigido.

HISTÓRIA
Musas do teatro musical
A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo prepara para outubro o livro Grandes Vedetes do Brasil, com verbetes biográficos sobre 41 mulheres que fizeram a história do teatro musical brasileiro desde o século 19, pontuando sua relevância social e artística. O prefácio é de Silvio de Abreu.

INTERNET
Todos os livros do mundo
O Google pode não ter ainda digitalizado todos os livros do mundo, como prometeu, mas divulgou o que, segundo a empresa, é a quantidade de títulos existentes: 129.864.880. Sem confiar na catalogação do ISBN, preferiu coletar dados de fontes como livrarias, catálogos nacionais e fornecedores comerciais (explicação em http://bit.ly/googleb). Resta ver quem checará a conta.

ASSÉDIO
Conteúdo digital
Escritores como Marcelo Rubens Paiva vêm sendo sondados por editoras que formarão um pool com a Livraria Cultura para o lançamento de suas obras em conteúdo digital. Como não sabem ainda de que modo negociar os direitos, os autores pretendem se reunir para tratar do assunto.

A coluna da semana

[publicada no Sabático de 31/7; disponível também no Estadão.com]

BABEL

Raquel Cozer – raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

CINEMA
Um modernista em 1.500 páginas, mas sem editora

Uma compilação de quase 3 mil crônicas escritas pelo crítico de cinema, poeta e ensaísta Guilherme de Almeida (1890-1969) está há quase uma década em busca de editora. Organizado ao longo de 20 anos pelo editor Frederico Ozanam Pessoa de Barros, hoje com 82 anos, o livro Cinematógrafos esbarra numa questão logística que já levou editoras interessadas a desistirem do investimento: o volume tem 1.500 páginas, e Barros, amigo e biógrafo de Almeida, não abre mão de publicá-lo na íntegra. Além dos textos que o modernista publicou no Estado de 1926 – quando foi convidado a assinar seção dedicada à crítica cinematográfica – até o início dos anos 40, o livro inclui fichas técnicas de todos os filmes sobre os quais escreveu. “Mais que crítico, foi o primeiro grande cronista de cinema do período. Seus textos registram aspectos da cultura de uma época em que ir ao cinema era quase como ir a uma festa”, diz Barros.

TRADUÇÃO
O primeiro romeno

O selo Amarilys, da Manole, prepara a tradução direta do romeno de O Retorno do Hooligan, romance em que Norman Manea relata sua primeira visita à Romênia após a queda do regime Ceausescu. O escritor, que vive em Nova York, relembra o fascínio pelo comunismo, a perseguição e a liberdade no exílio, junto a amigos como Philip Roth.

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Será a primeira tradução de Manea no País, a cargo da romena naturalizada brasileira Eugênia Flavian. E também a primeira direta do idioma a sair pela Manole – cujo fundador, Dinu Manole, nasceu na Romênia. A editora também tem os direitos de The Bunker, do autor, sobre o 11 de Setembro.

DIGITAL
Wylie e a tradução

A agência Wylie, que passará a publicar e-books de seus autores nos países de língua inglesa, é também a única grande que se recusa a vender direitos digitais de traduções num momento em que editores exigem cláusulas sobre publicação eletrônica.

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A Benvirá, por exemplo, não sabe se poderá lançar os e-books dos recém- negociados Tetralogia da Fertilidade, de Yukio Mishima, e Solo, de Rana Dasgupta. Incluiu cláusula para que seja a primeira opção caso a Wylie queira negociar os direitos. A Record, que publica Colum McCann e Azar Nafisi, da agência, avalia que terá de parar de negociar se a Wylie resistir na questão, a não ser que se comprometa a não vender direitos a outros ou explorá-los diretamente.

BOLSA
Um ano na Alemanha

Finalista do Prêmio SP de Literatura, que sai na segunda, Bernardo Carvalho não deve lançar outro romance tão cedo. O autor de O Filho da Mãe ganhou uma bolsa da instituição de intercâmbio Daad. A partir de março, passará um ano em Berlim como artista residente, seguindo passos de nomes como Rubem Fonseca e João Ubaldo Ribeiro.

CASA NOVA
Mudanças no catálogo

Após breve passagem pela Cosac Naify, Izabel Aleixo assume a direção editorial da Paz e Terra com a meta de garimpar obras de “maior apelo” e “dar uma reduzida” no catálogo de 1.200 títulos, organizando coleções. Para o selo Argumento, que em cinco anos teve só nove títulos, a meta é levar mais ficção contemporânea internacional e abrir portas para a nacional. Por 12 anos, na Nova Fronteira, Izabel lançou alguns dos maiores hits da década, como O Caçador de Pipas.

CINEMA
Chanel e Stravinski


A Larousse lança Coco Chanel e Igor Stravinski, do inglês Chris Greenhalgh. A obra aqui sai na esteira do filme homônimo, exibido no Festival de Cannes 2009 e que, protagonizado por Anna Mouglalis, retrata um caso entre a estilista e o compositor.

QUADRINHOS
Baleia multimídia

Um teaser de animação será criado pelo Estúdio Birdo para divulgar Cachalote, de Rafael Coutinho e Daniel Galera, lançada em junho pela Quadrinhos na Cia., com 800 exemplares vendidos até agora. O vídeo será lançado dia 4/9, quando a Choque Cultural abre mostra com originais e pôsteres da HQ.

A primeira vez (versão nacional)

Meses atrás, escrevi aqui no blog sobre a pesquisa de um autor americano, Jim C. Hines, sobre o caminho de um escritor até o primeiro livro publicado. Fiz a ressalva de que era um mercado bem específico –  Hines escreve livros de fantasia e a maior parte dos entrevistados também, e o critério que ele usou foi de primeiro livro publicado com adiantamento da editora – e me deu vontade de tentar algo do tipo por aqui. Focando em literatura e em grandes editoras, de alcance nacional, boa capacidade de distribuição e de divulgação.

Tá certo que não fui disciplinada desde os primeiros questionários que disparei por e-mail para autores, em maio, até o momento em que consegui voltar a pensar na pauta, agora no meio de julho, o que fez desta minha semana algo das mais caóticas.  Parecia simples, né, enviar e-mails, jogar tudo no Excell e fazer umas regras de três para as porcentagens. Mas daí, ao juntar todas as respostas, percebi que teria de abusar da boa vontade dos 60 que toparam participar (uns 6 ou 7 não responderam), refazer perguntas, mandar outras. Não é fácil ser Ibope.

Sim, é uma pesquisa informal (como aviso no texto, publicado no Sabático) que faria o povo das estatísticas ficar de cabelo em pé. Mas é sempre bom sair da rotina, tem lá sua graça. Com base no que os autores escreveram, dá uma dimensão: idade média de publicação do primeiro título de literatura, 34 anos; tempo entre o primeiro livro escrito, publicado ou não, até o livro publicado por uma grande editora, algo entre 5 e 6 anos (esse último dado não incluí na reportagem porque é mais complexo, já que muitos responderam só “menos de um ano” até a publicação, o que pode significar dois ou 11 meses).

A arte (do Rubens Paiva, ex-colega de Folha com quem voltei a trabalhar no Estadão), com os principais resultados, ficou incrível. O texto foi uma novela, fiquei tão preocupada em checar estatísticas (ok, “estatísticas”) que, ao reler a versão impressa que apareceu na redação e ver o que tinha escrito depois de tanto cortar e mudar, quase tive uma coisa. Consegui dizer um pouco melhor o que queria dizer ao fazer uns retoques pro on-line, que, afinal, é o que fica.

Mas as respostas, que não pude aproveitar na íntegra (pena, porque tinha muita coisa boa por ali), ainda me deram ideias para pautas futuras que podem ajudar a entender a árdua missão que é fazer literatura no País. Gracias a todos os autores que participaram, pela boa vontade.

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O incerto caminho até a publicação

Em enquete com 60 escritores, levantamos os dilemas enfrentados por autores em busca de editoras

Clique aqui para ver a arte em tamanho maior no PDF

Raquel Cozer – O Estado de S. Paulo

Anos atrás, o editor Paulo Roberto Pires presenciou uma inflamada discussão acerca do excesso de autores estreantes que as grandes editoras andariam colocando no mercado. Ele sabia que, a qualquer momento, um dos críticos poderia apontá-lo entre os culpados pelo que seria “falta de parcimônia” editorial. Como jornalista cultural, depois um dos organizadores da primeira Flip (2003) e, por fim, editor em duas das maiores casas publicadoras do País, a Planeta e a Ediouro, ele apresentou a um público mais abrangente alguns dos principais nomes da Geração 00, como João Paulo Cuenca, Joca Reiners Terron e Santiago Nazarian.

Pires não considera isso negativo. “Se um escritor é bom ou ruim, o tempo é quem diz. Era preciso sacudir o mercado naquele momento em que era enorme a diferença entre o que se editava e o que se via de interessante na internet.” O fato é que atitudes como a dele ajudaram a estimular a aceitação a novos autores. “A internet alterou o perfil do lançamento de um estreante”, avalia Vivian Wyler, gerente editorial da Rocco. “Está mais fácil ser autor agora do que quando quem badalava sua obra era visto com desconfiança, como se não tivesse a pátina correta de eruditismo. Hoje, ninguém vai criticar quem quer estar onde os leitores estão. As feiras literárias estão aí para provar.”

A exposição só não alterou o fato de que a publicação por uma grande editora marca, em geral, o momento em que tudo muda na trajetória de quem quer viver de literatura – ou se tornar uma pessoa jurídica, como diz Cristovão Tezza, que pôde parar de dar aulas e viver apenas em razão de seus livros desde que O Filho Eterno, publicado pela Record, abocanhou quase todos os prêmios literários de 2008. “É importante a recepção que o livro tem quando vem de uma grande. As pessoas olham diferente para um livro da Companhia das Letras, por exemplo”, diz Antonio Prata, que ingressou nesse olimpo literário em 2003, com As Pernas da Tia Corália, publicado pela Objetiva.

O Sabático resolveu saber dos próprios autores qual o impacto de uma grande editora em sua carreira, como foi o caminho até ela e como se sentem a respeito numa época em que, cada vez mais, surgem boas casas de pequeno ou médio porte no País – como a 34, a Iluminuras e a Ateliê Editorial, só para ficar em três exemplos. Numa espécie de pesquisa informal, enviamos pequenos questionários a quase 70 escritores de todas as idades, dos quais 60 aceitaram participar. As questões foram feitas em cima do primeiro título de literatura lançado com distribuição nacional e grande alcance de divulgação. E que, na maior parte dos casos, não foi o primeiro que tiveram editado – Lya Luft, por exemplo, escreveu o primeiro livro 13 anos antes de chegar à Record, onde virou best-seller com As Parceiras, em 1980; Ana Miranda escreveu dois de poesias por editoras pequenas e ficou 10 anos retrabalhando o mesmo romance até enviar os originais de Boca do Inferno para a Companhia das Letras – foram mais de 200 mil exemplares desde 1989.

É claro, o caminho é bem mais rápido para quem não se dedica a outros trabalhos antes, como Lya, ou não se debruça tanto tempo sobre a mesma obra, como Ana. As duas, que estrearam em grande editora com 40 e 37 anos, respectivamente, estão acima da média de idade que os participantes da enquete tinham quando chegaram lá, 34 anos. Quase um quarto dos escritores (23%) conseguiu fechar um contrato no mesmo ano em que terminou de escrever o primeiro livro – apostas em iniciantes, como no caso dos autores editados por Paulo Pires, ajudam a engrossar esse número; prêmios literários e publicações anteriores de contos em periódicos e antologias também.

Mas um número parecido (20%) esperou mais de uma década desde as primeiras tentativas literárias até receber um convite de uma grande editora. Caso de gente como Affonso Romano de Sant’Anna (que esperou 22 anos até, aos 38, ter Poesia sobre Poesia publicado pela Imago), Cristovão Tezza (17 anos tendo obras recusadas até Traposair pela Brasiliense) e Marcelo Mirisola (15 anos escrevendo livros até ser convidado pela Record a lançar Joana a Contragosto).

Mas Mirisola, assim como Marcelino Freire e outros escritores, já era conhecido quando teve o romance editado pela maior editora do País. O reconhecimento chegou com Fátima Fez os Pés para Mostrar na Choperia, que a Estação Editorial, uma editora de médio porte, publicou em 1998. “No meu caso, não mudou nada”, diz o paulistano sobre o título que saiu pela Record. Tanto que, depois disso, voltou para uma editora média, a 34, e em breve terá um infantil (a quatro mãos com Furio Lonza) pela Barcarolla.

Indicações. Só quatro dos 60 autores (Mirisola, Ana Miranda, João Almino e Tiago Melo Andrade) disseram que recomendações feitas por outros escritores ou pessoas próximas não facilitam o caminho para um iniciante. Tirando um ou outro que preferiu não emitir opinião a respeito, a grande maioria respondeu ao Sabático que a indicação abre portas, sim – mas todos ressalvaram que apenas permite aos manuscritos uma mãozinha para chegar logo ao topo da pilha de originais. Vinte e um dos autores disseram que escreveram a convite – está certo que boa parte deles já era algo conhecida por textos em antologias, periódicos ou editoras pequenas. Outros 38 afirmaram que enviaram originais; desses, 24 conheciam o editor ou tiveram a tal recomendação; os 14 restantes afirmaram só ter oferecido os originais nas editoras. E uma única, dentre os 60, recorreu a um agente – Ana Maria Machado, publicada pela Francisco Alves, uma das grandes em 1983. “Nos EUA, é mais comum iniciantes contratarem agentes. Por aqui é raro o autor se arriscar a pagar um agente sem a certeza da publicação; isso só costuma acontecer quando eles já estão com carreira mais estabelecida”, diz a editora Izabel Aleixo.

Por curiosidade, metade dos 38 autores que foram bem-sucedidos após enviar originais preferiram fazê-lo para uma só editora – uma espécie de ética que as casas publicadoras não exigem e que pode acabar sendo um problema para quem aspira ser editado. Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record, por exemplo, diz que não vê mais originais em papel não solicitados. “Não há como. Se vem um e-mail, a gente até se situa. Se achar que a carta está bem feita e que existe um mínimo de potencial, vai para leitura. Recebo uns 25 emails por mês, sem falar nos que recebem todos os outros editores, e uma quantidade absurda de papel que não serve para nada.”

Vivian Wyler, gerente editorial da Rocco, diz que passam de 150 os originais que chegam por mês à editora. A Rocco não veta os que chegam em papel, mas exige que todos venham gravados em CD – se o autor quiser mandar a impressão em anexo, fica por conta dele. “E, vou te dizer uma coisa, 98% dos livros. logo nas primeiras páginas, senão na carta de apresentação, você vê que não é um livro de verdade. Não falo nem de regras gramaticais, e sim de um mínimo de estilo, de consciência literária”, diz Izabel Aleixo, ex-diretora editorial da Nova Fronteira, que acaba de assumir cargo na Paz e Terra. Isso faz com que bons livros se percam na montanha de aspirações literárias. E é aí que entra a recomendação. Não porque vá privilegiar alguém, mas porque permite a triagem.

Mas nem todos são adeptos da fidelidade. Elvira Vigna, ao terminar O Assassinato de Bebê Martê, abriu um catálogo do Snel (sindicato dos editores) e mandou uma cópia do romance a cada editora cujos nome reconheceu. Em menos de um mês, recebeu a resposta de uma das melhores do País, a Companhia das Letras. Nelson de Oliveira também mandou seus contos de estreia para cerca de 20 editoras, mas precisou esperar oito anos, ganhar um prêmio, o Casa de Las Americas, e ser recomendado por um dos jurados, Rubem Fonseca, para publicar pela mesma casa Naquela Época Tínhamos um Gato>. Hoje, voltou a publicar por pequenas editoras: “Não há mais muita diferença. Em geral, as pequenas se profissionalizaram.” Ignácio de Loyola Brandão, que mandou cópias de seu Depois do Sol para 13 editoras, recebeu cartas padrões de quase todas e uma que não esqueceu, da Civilização Brasileira: “O autor escreve como quem mija.” “Achei até que era elogio, mijar é um ato natural”, conta. Acabou sendo publicado logo pela Brasiliense – e o editor Caio Graco, lembra Ignácio, aceitou a obra sem nem fazer reparos de edição.

Autores falam sobre o primeiro livro

“Já na Ateliê (de médio porte), com o Angu de Sangue, em 2000, minha vida literária mudou. Fui bastante resenhado, divulgado. Não sou desses que ficam com a bunda na cadeira, reclamando de editor”

Marcelino Freire

“As pessoas olham diferente para um livro da Companhia das Letras, por exemplo. Se fica mais fácil? Creio que sim. Mas não acho que no Brasil publicar seja problema. Isso é fácil. Difícil é vender”

Antonio Prata

“Aprendi que as pessoas não querem palpite nem sugestões, querem endosso e apadrinhamento. Qualquer restrição ou dica, por mínima que seja, é vista como ofensa e se ganha um desafeto”

Ana Maria Machado

“A passagem da Revan (de pequeno porte) para a Nova Fronteira não significou nada. Meu desempenho de público até piorou. Tanto que a Nova Fronteira não quis um segundo livro meu”

Alberto Mussa

“Aquele era o meu livro, era o livro possível, e se o editor fosse mais invasivo a obra não seria tão autêntica. Prefiro caminhar com as minhas próprias pernas e aprender com os meus próprios erros”

Adriana Lisboa

“A gente também passa a fazer outros trabalhos: textos de prosa e ficção para jornais, orelhas de livros, palestras. Para isso, é imprescindível ser publicado por uma grande editora, é evidente”

Cintia Moscovich

“Editoras grandes ajudam sobretudo em distribuição e divulgação, mas é precipitado dizer que necessariamente trazem mais público. Nada impede que isso seja alcançado em publicação independente”

Daniel Galera

“Quem leu (o primeiro livro que escrevi) achou péssimo e tive de concordar antes de enviar a qualquer editora. Mas todo livro é o primeiro. Já tive livros recusados depois de publicar o primeiro”

Bernardo Carvalho

“(A indicação) facilita o acesso à editora, mas não garante a publicação. É lenda achar que, por conhecer o autor ou ser amigo de alguém de seu círculo, o editor vai publicar o livro”

Cristovão Tezza

A coluna de 24/7

[Publicada no Sabático]

BABEL

Raquel Cozer, raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

INFANTIL
Saem 100ª edição do Maluquinho e novo Ziraldo, com realidade aumentada


A Melhoramentos decidiu fazer tiragem especial “bem pequena” da 100.ª edição de O Menino Maluquinho, a ser lançada na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, quando a companhia celebra 120 anos de história. Serão 2 mil cópias para Ziraldo e a editora distribuírem a pessoas próximas. Neste caso, o livro terá capa redesenhada pelo autor e, nas orelhas, depoimentos de gente como Martinho da Vila e Ferreira Gullar. Já a tiragem para o público terá 10 mil exemplares – a obra, que completa 30 anos, já vendeu 2,8 milhões de cópias. Ziraldo também lança O Menino da Terra, primeiro infantil nacional com jogo de realidade aumentada, no qual a criança usa o livro como joystick na frente da webcam.

LIVRARIAS
Distribuição desigual

O número de livrarias no Brasil cresceu 11% em três anos, totalizando 2.980, mas o aumento veio acompanhado de distribuição mais desigual das lojas pelo País, segundo a Associação Nacional de Livrarias. O Sudeste, que tinha 53% das livrarias nacionais em 2006, passou a 56% – a população da região corresponde a 42,5% da nacional. Já no Nordeste, com 28% da população brasileira, a proporção de livrarias caiu de 20% para 12%.

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O levantamento refere-se a 2009 e integra o Diagnóstico do Setor Livreiro, que a ANL divulgará nesta terça-feira, em São Paulo, e discutirá a partir do dia 9 na 20.ª Convenção Nacional de Livrarias.

LITERATURA CUBANA
O nada e o todo

Quinze anos depois de lançar O Nada Cotidiano, sobre sua vida em Cuba, a exilada Zoé Valdés publica em setembro na Europa a sequência da obra, O Todo Cotidiano, no qual fala da vida da França. Aqui, o primeiro livro saiu em 1998 pela Record. No começo do ano que vem, a Benvirá será a primeira editora a juntar os dois títulos num só volume.

CONTOS
Teatro de sombras


A L&PM comprou e mandou fotografar marionetes de teatro de sombra chinês (foto) para ilustrar o infantil Contos Sobrenaturais Chineses, de Sergio Capparelli e Márcia Schmatz. O livro deve sair no fim de setembro.

GUERRA
Depois da televisão

A Bertrand Brasil comprou os direitos do livro The Pacific, de Hugh Ambrose, que originou a série da HBO sobre fuzileiros navais na 2.ª Guerra. Produzida por Tom Hanks e Steven Spielberg, a minissérie teve 24 indicações para o Emmy, que será entregue em 29/8. O problema agora é correr com a tradução das mais de 500 páginas. Com sorte, sairá no primeiro trimestre de 2011. O último episódio foi exibido no Brasil em junho.

DIGITAL
Cabo de guerra

A Random House, maior editora do mundo, anunciou que não fará novos acordos com o mega-agente literário Andrew Wylie. Foi a resposta ao anúncio de Wylie de que negociará direitos digitais de autores direto com as lojas. Wylie criou para isso a Odyssey Editions, que dará dois anos de exclusividade à Amazon, vendendo a US$ 9,99 títulos como os quatro Coelho, de John Updike, cujos direitos de edição impressa são da Random.

MÚSICA
Lou Reed em liquidação

A Livraria da Vila encomendou cem exemplares de Pass Thru Fire – The Collected Lyrics, de Lou Reed, no embalo da Flip. Como o músico não vem mais, a baixa foi imediata: de R$ 49, o livro importado sairá por R$ 39. A Companhia das Letras vende o título traduzido, Atravessar o Fogo, por R$ 51,50.

A coluna Babel da semana (passada)

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[Publicado no Sabático de 17/7]
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BABEL
Raquel Cozer – raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

Jovem editora carioca aposta no Leste Europeu
A jovem editora Tinta Negra – lançada neste ano e cujo catálogo conta com apenas oito títulos, sete deles nacionais – faz uma aposta agora em obras doLeste Europeu premiadas e elogiadas em vários países, mas cujos autores são pouco ou nada conhecidos por aqui.  O investimento engloba textos clássicos e contemporâneos, de ficção e não-ficção e HQs.  Entre os previstos para sair em 2010 está Máfia, reportagem sobre os bastidores do crime organizado italiano realizada pela alemã Petra Reski.  Ainda sem título em português, Bieguni (Runners) apresentará ao público brasileiro a polonesa Olga Tokarczuk, três vezes vencedora em seu país do Prêmio Nike de Literatura. Nos quadrinhos, a aposta é no designer e escritor alemão Flix, autor da premiada graphic novel de reportagem Da War Mal Was (o título provisório em português é Quando Tinha um Muro…  Lembranças Daqui e de Lá).  O autor, de 34 anos, virá ao País neste ano a convite do Goethe-Institut, para uma série de eventos, mas o livro sai por aqui só no começo do ano que vem.
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INTERNET
Aulas com Faulkner
De 1957 a 1958, já detentor do Nobel de Literatura (1949), William Faulkner foi escritor-residente da Universidade de Virgínia, nos EUA.  Pouquíssimos alunos tiveram chance de assistir às suas palestras e leituras. Recém-digitalizadas, as sessões agora podem ser ouvidas em faulkner.lib.virginia.edu.
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O site inclui textos e cartoons (acima) de publicações locais no período, além de fotos e cartas.  Numa delas, o criador de O Som e a Fúria responde ao convite para falar aos alunos: “Meu primeiro pensamento foi que eu era só um escritor-residente, não um palestrante-residente, (…) mas talvez seja meu dever (…) tentar dizer algo válido.”
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CINEMA 1
Filho multimídia
Um mês após o anúncio de sua adaptação teatral, O Filho Eterno, romance nacional mais premiado de 2008, teve os direitos comprados para o cinema.  A obra de Cristovão Tezza será adaptada pela RT Features.
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CINEMA 2
Vida eterna
Para quem acredita que a onda de livros de vampiros vai amainar, indícios recentes provam o contrário: a Terra dos Vampiros, lançado pela Planeta, será adaptada para as telas por John Carpenter, diretor de filmes de terror
cult como Halloween (1978).  O papel principal será de Hilary Swank.
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E outro que ainda nem saiu por aqui, A Passagem, de Justin Cronin, teve os direitos comprados pela Fox, que deixou o roteiro aos cuidados de John Logan (Oscar por O Gladiador).  O título abre uma trilogia que a Sextante põe nas
livrarias a partir de agosto.
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JUVENIL
Ao redor do mundo
Adriana Lisboa assinará os textos de A Volta ao Mundo em 190 Histórias, coletânea da Rocco organizada por Celina Portocarrero.  A série, para o público juvenil, recuperará lendas de todo o mundo.  O primeiro título, previsto para janeiro, será dedicado à África.  Depois, virão Europa, Ásia e Américas.
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A autora acaba de entregar à editora os originais de Azul-Corvo, romance adulto que parte de pesquisa sobre a Guerrilha do Araguaia para narrar a trajetória de um ex-combatente que se torna imigrante nos EUA.
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REVISTA
Número cinco
A quinta edição da quadrimestral serrote, que sairia neste mês, ficou para agosto, por conta da Flip.  Destaca-se a série de ilustrações da israelense Maira Kalman, autora de livros infantis e capista da New Yorker.  Os desenhos foram feitos para edição especial do clássico manual The Elements of Style, à exceção de um serrote desenhado especialmente para a publicação do Instituto Moreira Salles.
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QUADRINHOS
Filosofia pop
A Desiderata garantiu os direitos da graphic novel Nietzsche – Se Créer Liberté.  Com texto de Michel Onfray e arte de Maximilien Le Roy, a biografia vem sendo considerada na Europa a melhor HQ do ano.

Enfim, algo a dizer

Confesso que quando soube, meses atrás, que a Flip teria mesa sobre o futuro do livro tive vontade de parar o que estava fazendo e tirar uma soneca.  O problema é que, no Brasil, fala-se muito mais sobre o tema do que se vê algum avanço, e não será uma mera falta de assunto que impedirá um repórter de escrever um lide.

Daí que foi uma boa surpresa conversar com um dos integrantes da mesa sobre o tema  na Flip (junto com Robert Darnton), o CEO da Penguin, John Makinson, por conta da parceria da editora com a Companhia das Letras (sobre a qual falo aqui e aqui, em reportagem publicada ontem no Caderno 2). Por uma razão simples: ao contrário da maior parte das pessoas que discorrem sobre o assunto no Brasil, ele fala com conhecimento de causa, já que a Penguin tem trabalho forte nesse sentido.

Agora, relendo a entrevista, faço um mea culpa. Durante a conversa a questão não me ocorreu, mas agora ela esperneia na minha frente.

A ideia do conteúdo extra como diferencial para um e-book sobreviver à pirataria de livros não lembra algo que você tenha ouvido antes? Não lembra aquele discurso do mercado cinematográfico de que “um DVD pirata não tem os extras que existem no oficial”? Não posso dizer que acompanhe de perto o mercado de DVDs, mas a gente tem uma ideia. Ou, se não, dá pra ter uma noção do capítulo seguinte lendo esta reportagem que a Ana Paula Sousa fez para a Ilustrada meses atrás.

Mas, enfim. A gente pode até desconfiar do futuro no caso dos livros. Mas, como ninguém está aqui para mãe Diná, vale ouvir quem faz o negócio funcionar hoje.

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[entrevista publicada no Caderno 2 de 16/7]

O desafio é tornar a leitura interessante nos E-BOOKS’

John Makinson, que estará na Flip, fala das apostas bem-sucedidas da editora em e-books e das possibilidades do mercado

Raquel Cozer – O Estado de S. Paulo

Uma exigência da Penguin na parceria com a Companhia das Letras foi que todos os livros da coleção Clássicos também saíssem no formato digital. Por quê?

Nos EUA, o mercado de e-readers vem crescendo rapidamente. Em pouco tempo, eles se tornaram plataformas atraentes para o leitor. No Brasil, as opções de leitores eletrônicos em celulares ou tablets ainda são incipientes, mas aposto que em poucos anos haverá um mercado significativo. Essa é uma razão. Outra razão foi entendermos que é possível oferecer bom material extra na literatura em formato digital. Por exemplo, se você pega Jane Austen, Orgulho e Preconceito, pode enriquecer o conteúdo digital com descrições de características do período, informações históricas sobre lugares onde os fatos se passam, trabalhos críticos. Tenho confiança na ideia de testar limites editoriais e acho que o Brasil logo terá mercado para isso. Você, que vê esse mercado de perto, o que acha?

O que me chama a atenção é o receio que editores têm de apostar nesse mercado. Tivemos em São Paulo um congresso sobre livro digital, e era dúvida recorrente a questão dos lucros. É possível lucrar com e-books?

Sim, claro que sim, porque o e-book não exige nada de manufatura, não exige investimento em distribuição e estoque. Você ainda tem o investimento, é claro, na edição, na divulgação do livro, mas não há custos físicos. Então a questão é: você pode determinar o preço do livro de forma que o consumidor fique satisfeito, e também o editor? Essa é uma das questões sobre as quais vou falar na Flip.

Já é lucrativo para a Penguin?

Sim, claro. Por que não seria?

Devido à pirataria, por exemplo.

Sim, isso é um fato. Mas no mercado do livro não tem sido como foi no da música. Há várias diferenças. Uma é que a psicologia do consumidor é outra. Na música, é interessante para jovens ter enorme quantidade de faixas no iPod, milhares delas. Não é cool ter milhares de livros no e-reader, porque ninguém conseguirá lê-los. Isso é um ponto. Outro ponto é que a indústria da música descobriu que o consumidor não queria comprar o álbum, e sim a faixa. Então o modelo desenvolvido por muito tempo não era o ideal. Não é o caso do livro. Não temos evidência de que as pessoas estejam interessadas em comprar capítulos, elas querem o livro. E, em terceiro lugar, as pessoas têm relação sentimental com o livro. Uma coisa importante na Penguin é a certeza de que os livros sejam bonitos para que as pessoas queiram ter e colecionar.

Mas na música também havia relação sentimental com álbuns. Será que as novas gerações terão essa relação com os livros?

Não sei! Creio que sim. Acho que há algo duradouro na relação sentimental com o livro. Nos EUA a oportunidade para pirataria e infração de direitos autorais já existe há muitos anos, há muitos sites de upload de conteúdo de livros. Não digo que não seja um problema. É um problema, mas não é “o” grande problema como na música. As vendas na Penguin continuam bem. Não estamos encolhendo, estamos crescendo.

Qual a parcela de livros da Penguin vendida no formato digital?

Os e-books chegam a 10% das nossas vendas. O que percebemos foi que há livros mais adequados para o formato digital que outros. Não são categorias totalmente consistentes, mas um novo best-seller, por exemplo, tem mais potencial para conteúdo extra na versão digital que um clássico, já que o próprio autor pode produzir esse conteúdo. O que é interessante é tentar entender o que o consumidor não compra quando compra o e-books, se deixa de comprar o livro hardcover (de capa dura, em geral a primeira edição de livros nos EUA) ou o paperback (tipo brochura).

Você foi citado no ranking dos nomes mais importantes da mídia em 2010 segundo o MediaGuardian por ações no mercado digital. Quais os próximos passos da Penguin nesse sentido?

O interessante desse ranking foi o argumento de que estamos redefinindo a indústria do livro. Alguns dos aplicativos que estamos desenvolvendo serão bem diferentes de tudo o que fizemos até agora. A maneira como apresentamos informações de viagem no iPad, ou como fazemos livros ilustrados para criança virem à vida, ou ainda como envolvemos redes sociais e comunidades de um jeito novo no mercado para adolescente. Isso tudo é muito novo e requer novas habilidades de editores. Significa que temos de entender novas tecnologias, novos critérios para determinar preços, temos de ser criativos na maneira de pensar no leitor. Não diminuo as questões que você levantou, a pirataria, a preocupação com lucro, são questões sérias. Mas, acima de tudo, estamos muito otimistas.

A digitalização de clássicos que o Google promove pode prejudicar as vendas da Penguin?

Bem, você pode obter no Google os clássicos em domínio público, mas, se fizer isso, a experiência de leitura não será atraente. Eles digitalizam e escaneiam manuscritos originais, e estes são os velhos, difíceis de ler. Mas eles no Google são espertos, logo darão jeito de melhorar isso. Com isso, nos desafiam a pensar em como tornar os Clássicos da Penguin realmente atraentes por seus preços. A questão é: o que você compra quando compra nossos clássicos é design, introduções, qualidade de tradução, notas de rodapé. Devemos deixar claro para o leitor o que temos de diferente, porque estamos propondo que comprem por uma quantia razoável de dinheiro algo que podem conseguir de graça. É um desafio interessante.

A coluna no Sabático de 10/7

BABEL

Raquel Cozer – raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S. Paulo

DIGITAL
Livros raros de Warhol e Bresson estarão à venda no Salão das Artes


Três exemplares de livros raros e autografados pelos autores serão vendidos pela livraria Fólio no Salão de Artes, que acontece de 16 a 22 de agosto no Clube A Hebraica, em São Paulo. Dois são de Andy Warhol: Portraits of the 70″s (1979), cuja edição teve apenas 200 cópias, custará R$ 6 mil; já The Philosophy of Andy Warhol (1975), que inclui desenho à mão do artista de uma de suas célebras latas de sopa Campbell, sairá por R$ 15 mil. A terceira obra é um exemplar da primeira edição de Paris à Vue D”Oeil (1994), com dedicatória de Henri Cartier-Bresson à pessoa que o ajudou a selecionar as fotos para o livro. Tem textos de Vera Feyder e André Pieyre de Mandiargues e custará R$ 4.600.

HISTÓRIA
As listas de Eco

O Livro das Listas, em que Umberto Eco vê a necessidade humana de criar listas como a origem da cultura, aporta em setembro no Brasil. Assim como ocorreu com A História da Beleza e A História da Feiúra, o título da Record será editado na Itália e virá de navio. “Me pergunto se não é tudo ironia. Talvez a piada seja fazer o leitor crer que o elogio de Eco às listas é sério”, concluiu a historiadora Mary Beard ao resenhá-lo no Guardian.

ARQUIVO
Beatles como nunca antes

Um arquivo inédito de letras, roupas e instrumentos será revelado em setembro em Beatles Memorabilia: The Julian Lennon Collection, que a Carlton publica com o filho mais velho de John. “Há itens que ninguém jamais viu”, resumiu o editor Roland Hall.

QUADRINHOS
Mutarelli no espaço

Sai em agosto, pela Zarabatana, O Astronauta ou Livre Associação de Um Homem no Espaço, HQ que foi gestada por seis anos. O texto é de Lourenço Mutarelli, que pela primeira vez aceitou escrever para outros ilustrarem – no caso, os jovens Flavio Moraes, Fernando Saiki e Olavo Costa.


FLIP 1
Calçada de pedras da fama

O agente de Lou Reed avisa que “tudo bem” o músico ser clicado por fotógrafos na Flip, desde que não usem flashes. A ver se Lou consegue se proteger também dos flashes dos fãs que lotarão, dia 7, a sua mesa, uma das duas mais concorridas do ano.

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A outra convidada cujos ingressos se esgotaram mais rápido na segunda, Isabel Allende, recebe cuidado redobrado da Record. Com mesa no dia 5, será a única dos autores a pegar helicóptero do Galeão até Paraty.

FLIP 2
Programa em Paraty

E o Itaú Cultural estreará no evento em Paraty. O Jogo de Ideias, exibido em TVs educativas desde 2004, terá episódios gravados na Casa de Cultura. Entre os convidados, dois da Tenda dos Autores, Benjamin Moser e Berthold Zilly. A entrada será gratuita.

CONCURSO
Prêmio para capas

A Getty Images abre em agosto inscrições para a segunda edição de seu concurso de capas de livros. Em 2009, concorrendo com 52 trabalhos, venceu a capa criada por Rodrigo Rodrigues de Azevedo para Os Espiões (Alfaguara), de Luis Fernando Verissimo.

ORIGINAIS
Sinais dos tempos

A pequena Tin House, dos EUA, anunciou que aceita receber originais de autores inéditos. Desde que venham junto com recibo de título comprado em livraria. É a campanha Compre Um Livro, Salve Uma Livraria.

Colaborou Ubiratan Brasil

A coluna de 3/7

Na foto abaixo, o largo de São Bento visto do convento, em 1884, por Militão Augusto de Azevedo. Coluna publicada no Sabático de hoje, no Estadão.

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BABEL

Raquel Cozer – raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

PERFIL
Loyola mostra Ruth Cardoso “por trás da catedrática”

Ignácio de Loyola Brandão já entregou à Globo Livros os originais do perfil Ruth Cardoso: Fragmentos de Uma Vida, ao qual se dedicou no último ano e que deve sair em setembro, quando a socióloga, morta em 2008, completaria 80 anos. Foi Fernando Henrique Cardoso quem sugeriu o nome dele para a editora, ao lembrar que, em 1995, o escritor e colunista do Estado havia realizado para a revista Vogue uma extensa entrevista com Ruth, que até então se recusava a falar no papel de primeira-dama. Na ocasião, Loyola tirou dela até comentários sobre a relação com FHC (“Todos o consideravam o bonitão, mas confesso que nem era tanto. Tão magrinho”). Trechos dessa conversa estão no livro, assim como lembranças de dezenas de parentes e conhecidos (“Não era amiga dessas de contar no detalhe uma intimidade. Nunca deixava ultrapassar certos limites”, descreveu a amiga Regina Meyer ao escritor). Loyola define a obra como um “retrato alongado” da “mulher por trás da catedrática, da doutora, da primeira-dama, da feminista”.

SOCIOLOGIA
Ruptura na modernidade

O clássico contemporâneo Sociedade de Risco, de Ulrich Beck, terá em agosto a primeira edição nacional, com tradução de Sebastião Nascimento para a Editora 34. No livro, o alemão argumenta que vivemos momento de ruptura similar ao do fim da era feudal e no qual “a produção social de riqueza é acompanhada pela produção social de riscos”. A obra saiu na Alemanha em 1986, logo após o acidente nuclear de Chernobyl.

INFANTO-JUVENIL
Best-seller para novo público

A estreia de John Grisham no gênero infanto-juvenil levou-o neste mês ao topo dos mais vendidos nos EUA e já tem dona no Brasil – até o fim do ano, a Rocco lança o primeiro título da série Theodore Boone, sobre um expert em advocacia de 13 anos. Antes, em agosto, sai A Lei, mais recente thriller de tribunal adulto do autor de A Firma.

CINEMA
Feitos um para o outro

A Intrínseca adquiriu os direitos de One Day, romance de David Nicholls que será adaptado para o cinema pela finlandesa Lone Scherfig (diretora do premiado Educação), com Anne Hathaway (protagonista do Alice de Tim Burton) no papel central.

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A trama tem um quê de Harry e Sally: os protagonistas, Emma e Dexter, encontram-se pela primeira vez em 1988 e voltam a se esbarrar por duas décadas. O próprio escritor faz o roteiro do longa, previsto para 2011 – quando também sai o livro por aqui.

ICONOGRAFIA
Lembranças reeditadas

Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura de São Paulo, reedita o livro Memória Paulistana, cuja primeira edição, de 1975, ele organizou para a inauguração da sede do Museu da Imagem e do Som na avenida Europa. Com fotos do fim do século 19 até os anos 40, o álbum era o catálogo de uma mostra idealizada por Rudá de Andrade, então diretor do MIS. Inclui imagens de Militão Augusto de Azevedo e Valério Vieira “razoavelmente desconhecidas à época”, escreve Calil no prefácio à nova edição. Deve sair este ano pela Imprensa Oficial do Estado de SP.


FANTASIA
Outros rumos da Panini

Líder em quadrinhos no Brasil, com obras da Marvel e DC Comics, a Panini aposta no que chama de “livros literários” no momento em que grandes editoras investem nas HQs. A estreia acontece com Orcs – Guardiões do Relâmpago (“no melhor estilo Senhor dos Anéis”, informa a editora). Ainda neste ano, saem títulos como Demonkeeper – O Guardião do Caos (sobre fera “muito, muito perigosa”) e Bram Hambric (“que segue a linha Harry Potter”).

ENSAIO
De onde vem a criatividade

Um dos maiores pensadores do cyberespaço, o americano Steven Johnson tenta decifrar a origem da criatividade – e por que determinados ambientes parecem mais propícios ao surgimento de boas ideias – em Where the Good Ideas Come From: The Natural History of Inovation, que sai em outubro nos EUA. Por aqui, os direitos estão com a Zahar, que lançou em 2009 A Invenção do Ar.

A coluna de 26/6

No Estadão.com, aqui.

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BABEL

Livro de contos ajudará desabrigados do Nordeste

RAQUEL COZER –  raquel.cozer@grupoestado.com.br – O Estado de S.Paulo

Ronaldo Correia de Brito, Raimundo Carrero, Alberto Mussa e Marcelino Freire estão entre os 19 ficcionistas confirmados para a coletânea Tempo Bom, cuja renda será revertida aos moradores de Alagoas e Pernambuco que ficaram desabrigados com as chuvas dos últimos dias. O projeto foi idealizado na segunda-feira pelo escritor pernambucano Sidney Rocha e já tem editora, a paulistana Iluminuras; como os autores, ela abriu mão do porcentual nos lucros. Vários contos, inclusive inéditos, já foram enviados, e o livro está em produção. Falta a confirmação de dois ficcionistas. Rocha quer mandar o material para a gráfica na próxima quarta e pôr o livro (ainda sem preço definido) à venda nos primeiros dias de julho. “A ajuda financeira deve chegar o mais rápido possível aos locais necessitados. Será uma lição de eficiência, uma cruzada literária”, afirma. Por curiosidade, o escritor tem um conto num projeto similar que a Garimpo Editorial organiza – mas este, em prol do Rio e do Haiti, foi iniciado em março e não deve sair antes de agosto.

CINEMA
Long-seller juvenil

Pedro Bandeira acaba de assinar contrato para a adaptação de seu mais famoso livro juvenil, A Droga da Obediência. O longa será coproduzido pela REC Produtores (responsável por Cinema, Aspirinas e Urubus) e a Gullane (Carandiru). A obra, de 1984, teve mais de 1,5 milhão de cópias vendidas.

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Xuxa e o Mistério de Feiurinha, baseado em outro best-seller do autor, O Fantástico Mistério de Feiurinha, foi o segundo filme nacional mais visto de janeiro a maio de 2010 – perde apenas para Chico Xavier – e o melhor desempenho de Xuxa no cinema em anos.

QUADRINHOS 1
Contra o tempo

A Conrad corre para lançar a tempo da Flip a coletânea Meus Problemas com as Mulheres, de Robert Crumb, e, na Bienal, uma coletânea de histórias de Aline, mulher dele.

QUADRINHOS 2
Obra do canhoto

Uma versão em HQ para A Divina Comédia, de Dante, que sai em agosto nos EUA, teve direitos comprados pela Companhia das Letras. O responsável por ilustrar o Inferno, o Purgatório e o Paraíso do clássico foi Seymour Chwast, conhecido como “o designer canhoto” e estreante em graphic novels.

INTERNET
O Brasil na Biblioteca Mundial


É da Fundação Biblioteca Nacional o arquivo mais acessado na World Digital Library (wdl.org), projeto de digitalização de livros, manuscritos e acervos visuais e sonoros de bibliotecas de 55 países. Trata-se de um mapa da Espanha e de Portugal de 1810 (foto). Juntos, todos os documentos disponíveis tiveram 67 milhões de visualizações desde abril de 2009, quando o site entrou no ar.

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Nesta semana, Muniz Sodré, presidente da FBN, foi eleito membro do Conselho Executivo da WDL. Com os membros criadores – a Biblioteca do Congresso dos EUA e a Unesco – e conselheiros de mais quatro países, ajudará a definir os novos passos do projeto.

VENDAS
Memorial português

A morte de Saramago, dia 18, fez seus livros passarem a vender pelo menos dez vezes o que vendiam nas principais livrarias de São Paulo. A Saraiva, que havia comercializado 188 títulos do dia 13 ao 17, contabilizou 1.873 entre o 18 e o 22. Na Cultura, a venda foi 14 vezes a de antes de o autor morrer. A pedido de livreiros, a Companhia das Letras pôs no mercado mais 30 mil volumes.

NOVA EDIÇÃO
Francês nas prateleiras

Conhecido pelas adaptações que Robert Bresson fez de suas obras Diário de Um Pároco de Aldeia e Nova História de Mouchette, o francês Georges Bernanos (1888-1948) terá seu primeiro livro, Sob o Sol de Satã, de 1926 – que virou filme nas mãos de Maurice Pialat -, editado pela É Realizações. Considerado o mais original entre os autores católicos franceses do século 20, Bernanos andava esquecido no mercado nacional.

Colaborou Antonio Gonçalves Filho

Quanto vale o livro

O site The Morning News publicou o resultado de breves entrevistas com os filhos de seus colaboradores sobre suas leituras de verão. Apenas questões básicas, como “o que acontece no livro”, “o que você diria ao autor” e “do que você mais gostou”.

As melhores respostas ficam para a pergunta “quanto você acha que o escritor recebeu para escrever o livro”. São elas:

“Dez dólares” (Olívia, 7 anos)
“Centenas. Cerca de 1.000? Não, dez libras” (Toby, 5 anos)
“Sete centavos” (Simon, 4 anos)
“50 dólares” (Iris, 7 anos)
“20 dólares e 20 estrelas” (Raimi, 7 anos)

Vi aqui.

O futuro dos… zzzzz

Todos os lados da discussão sobre o futuro dos livros em oito minutos.  Pronto. Agora veículos de cultura ou tecnologia podem pensar em só voltar a fazer reportagens sobre o assunto quando houver de fato algo novo a ser dito.

Tirei daqui.