Atwood sem-vergonha

O Guardian de hoje noticia que a Margaret Atwood, vencedora do Booker Prize, do Príncipe das Astúrias e de quase todos os prêmios relevantes na literatura, aparecerá CANTANDO no filme canadense Score: A Hockey Musical. O longa, com Olivia Newton-John no elenco, conta a história de um adolescente prodígio no hóquei e estreia só em outubro, mas a escritora adiantou algumas fotos da gravação em seu blog, onde também escreveu: “Sim, eu cantei, sem-vergonha…“.

Mas o melhor foi essa pérola que o site do jornal destacou. É a participação dela num programa de humor da TV canadense: “As pessoas me perguntam se eu penso em mim mesma como poeta, em primeiro lugar, e depois como romancista, ou vice-versa. A verdade é que eu de fato penso em mim mesmo como…”

Bem, confira.

Em busca do Booker Prize perdido

Em 1970, segundo ano do Man Booker Prize, a inglesa Bernice Rubens (1928-2004) foi premiada por The Elected Member, de 1969. Na época, o Booker avaliava obras lançadas no ano anterior ao prêmio. Em 1971, e regra mudou, e passaram a ser avaliados livros editados no próprio ano. Venceu In a Free State, do britânico (Nobel de 2001) V.S. Naipaul.

E quando diabos concorreram os livros publicados em 1970? Nunca. Ninguém lembrou deles, até porque o Booker nem era celebrado assim. Então um arquivista da Fundação Booker Prize, ao tentar entender por que seu querido Fifth Business, de Robertson Davies (1913-1995), não havia vencido em 1971, descobriu que a obra nem fora considerada. Porque o ano inteiro de 1970 tinha sido excluído.

A Fundação Booker Prize chama de fazer justiça histórica, mas também dá para chamar de bela sacada do sempre atento departamento de marketing: neste mês, foi anunciado o Lost Man Booker Prize, que dará ao vencedor do Booker de 1970 em potencial o que é do vencedor do Booker de 1970 em potencial. Eles chamaram uma equipe para avaliar os livros daquele ano (gente que, ok, nem bem era nascida em 1970) e selecionar uma shortlist, a ser anunciada em 25 de março. Os internautas poderão votar no melhor desses seis, e o vencedor sairá em maio.

 

É a terceira vez que o Booker cria um prêmio que celebra o próprio prêmio. As outras foram o Booker dos Bookers, em 1993, em comemoração aos 25 anos da honraria, e o The Best of the Booker, em 2008, pelo 40º aniversário. A boa notícia para os concorrentes ainda vivos é que Salman Rushdie, ganhador dos outros dois prêmios que dependeram da escolha do público, ainda não tinha nada publicado em 1970.

Abaixo, a lista dos autores e os livros pelos quais estão sendo avaliados. Será uma disputa acirradíssima entre 22 nomes, dos quais 11 já morreram. Coloco um sinal da cruz, amém (na verdade, um sinal de mais), para os que não terão condições terrenas de colocar as mãos em seu Booker perdido.

xxx
Brian Aldiss, The Hand Reared Boy 
+ H.E.Bates, A Little Of What You Fancy?
Nina Bawden, The Birds On The Trees
Melvyn Bragg, A Place In England
+ Christy Brown, Down All The Days
Len Deighton, Bomber
+ J.G.Farrell, Troubles
Elaine Feinstein, The Circle
Shirley Hazzard, The Bay Of Noon
Reginald Hill, A Clubbable Woman
Susan Hill, I’m The King Of The Castle
Francis King, A Domestic Animal
+ Margaret Laurence, The Fire Dwellers
David Lodge, Out Of The Shelter
+ Iris Murdoch, A Fairly Honourable Defeat
+ Shiva Naipaul, Fireflies
+ Patrick O’Brian, Master and Commander
+ Joe Orton, Head To Toe
+ Mary Renault, Fire From Heaven
Ruth Rendell, A Guilty Thing Surprised
+ Muriel Spark, The Driver’s Seat
+ Patrick White, The Vivisector