Isto não é um livro

 

Ceci n’est pas un livre, informa, à moda Magritte, o livro que na verdade é a base da estante. Peguei daqui.

Daniel Alarcón e pirataria de livros no Peru

Quando estive no Peru, nas últimas férias, não resisti ao lugar comum de levar na bagagem dois Vargas Llosa, Tia Julia e o Escrevinhador e Pantaleão e as Visitadoras, para entrar no clima (embora, ok, a maior parte de Pantaleão se passe em Iquitos, em plena floresta amazônica e perto de onde nem sequer pensei em passar). Acontece que terminei os dois bem antes dos 20 dias de viagem, então fomos, a certa altura, procurar livrarias em Lima.  

O que encontramos foram galpões abarrotados de traduções para o espanhol de quase todos os best-sellers que se vê numa Fnac, além de clássicos, livros de autores brasileiros e muita autoajuda – todos grosseiramente “editados”, se é que o termo cabe, no cenário mais gritante de pirataria de livros que já vi. Nunca tinha lido nada a respeito, mas a mais recente Granta inglesa traz uma reportagem do escritor peruano Daniel Alarcón (autor do bom Rádio Cidade Perdida) sobre o tema.

A íntegra está disponível só na revista em papel, mas, há alguns dias, o site do Guardian publicou um slideshow sobre a história acompanhado por pequenos textos de Alarcón, que dão boa medida da situação. Ele conta, por exemplo, que encontrou exemplares em espanhol de O Vendedor Está Só, do Paulo Coelho, antes mesmo de o livro ganhar tradução. Mas o mais curioso é o trecho em que ele fala como se sentiu ao ver um de seus próprios livros numa dessas banquinhas:

Até ver essa foto, eu nunca tinha visto uma edição pirateada de meu primeiro livro de contos, Guerra a la Luz de las Velas – o que sempre me causou uma espécie de desapontamento. A maior parte dos escritores peruanos têm uma relação complicada com o conceito de pirataria – ela é, de alguma maneira, equivalente a chegar às listas de best-seller. Você ao mesmo tempo espera e teme ser pirateado. É certamente lisonjeiro ver o trabalho em tão boa companhia, ladeado por Mario Vargas Llosa, Juan José Millás, Gabriel García Márquez, Truman Capote e José Saramago – e os obrigatórios volumes de Sudoku e autoajuda, naturalmente.

Kindle para PC e os títulos gratuitos

Não sou evoluída como esses adolescentes que conseguem ler um livro inteiro na tela de um computador (meu cunhado, de 17 anos, fez isso com o último Harry Potter, que tem lá suas 700 páginas). Então, na minha primeira experiência com o Kindle para PC, resolvi pôr todo meu lado muquirana para trabalhar e tentei pegar um dos livros gratuitos para Kindle sobre os quais li nesta matéria, dica do Gui Ravache. Tipo, já que não vou ler mais que dez páginas, pra que pagar?

Daí descobri que os autores de tranqueiras americanas de que fala o texto não estão a fim de angariar leitores entre nós, latinos. E que os poucos desses livros gratuitos que podem ser baixados aqui, como Exposure: A Novel, de Bradilyn Collins (cuja sinopse avisa: “Quando seu pior medo se torna verdade”), acabam saindo por US$ 2, com os quais prefiro pagar a integração metrô-ônibus.

Fui lá no bom e velho domínio público e baixei Leviatã, do Thomas Hobbes, por incríveis US$ 0. Nunca vou ler, mas também não me custou nada.

Após ficar frente a frente com a tela de um Kindle físico, o para PC não chega a ser um sonho. Não é muito diferente de ler algo baixado via eSnips. Mas o fato é que, em menos de cinco minutos, baixei o programa, escolhi o livro e estava com ele na minha frente. O Kindle para PC também tem a vantagem de ser tão mais rápido quanto melhor for o seu computador (e o daqui de casa é uma belezinha), enquanto o físico dá umas atravancadas esquisitas vez por outra.

Leviatã, no Kindle for PC

Pra quem lê livros inteiros na tela do computador, o programa é perfeito. E, pra quem é jornalista (e a dica que chegou até mim foi de um deles, o repórter da Ilustrada Marcos Strecker), é mão na roda. Tá pensando que é fácil escrever sobre títulos que saem na gringa sem ter Kindle? É pedir pra editora e esperar três semanas quando elas não topam mandar o PDF por e-mail… O próximo lançamento bacanudo gringo não precisará de um delay de um mês para ganhar matéria aqui.

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Durante minha busca por volumes gratuitos para o Kindle, esbarrei no  Free Kindle Books and How to Find Them. Custa US$ 4 saber como encontrar livros de graça.